Celso Amorim diz que o governo brasileiro quer reunir novamente a América do Sul
Para o assessor especial do presidente da República, a região está desorganizada. Mas, em sua opinião, a união entre os países vai garantir a sobrevivência frente a outros blocos.
O Brasil está trabalhando para fortalecer a integração dos países da América do Sul num bloco, mas esse é um desafio para o governo, segundo o chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, Celso Amorim. Em palestra no States of The Future, evento paralelo do G20, o diplomata disse nunca ter visto, desde a redemocratização, “uma América do Sul tão desorganizada, tão sem olhar um para o outro”, referindo-se aos países que compõem o bloco.
“Estamos tentando quebrar um pouco essa situação, mas não é fácil, não é simples”, afirmou Amorim, para quem a união local é um meio de garantir a sobrevivência, numa configuração em que Estados Unidos, União Europeia, China e, em alguns anos, a Índia são “blocos em si mesmos”.
“Fico olhando para o Brasil, que é um país muito grande, muito respeitado. Mas o Brasil não é um bloco. Esse é o maior desafio que vejo no curto e médio prazo na política externa”, afirmou o assessor especial, durante o painel ‘Nova Governança Global: a voz do Sul’.
Apesar das dificuldades, Amorim demonstrou otimismo com avanços na representatividade dos países em desenvolvimento em grupos, até há pouco tempo, formados exclusivamente pelas grandes potências do norte global. Esse é o caso do G20, oriundo do G7+, que reunia apenas os oito países mais industrializados.
Como exemplo das mudanças, ele citou a presença do presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, no encontro do G20, nesta quarta-feira, 24, e o apoio dado por ele à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O lançamento acontecerá, de fato, em novembro, na cúpula do G20.
Segundo Amorim, a presença do presidente do Banco Mundial, que presidiu também a multinacional norte-americana Mastercard, demonstra alguma transformação na configuração geopolítica. “Isso inspira otimismo. Se o G20 ficasse um pouco menos europeu e um pouco mais africano, e tivesse uma representação adequada dos países pequenos, ele seria um fórum razoavelmente próximo ao que deve ser o mundo de hoje, o que deve ser a governança”, disse.
Apesar dos avanços, Amorim afirma também que, para que haja uma “governança em si”, além de serem mais representados nas instituições globais, os países do Sul têm que ter influência efetiva nas decisões.
A ex-presidente do Chile e ex-alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também presente no evento, enfatizou que o Brasil exerce um papel fundamental nas relações multilaterais, porque o presidente Lula sempre foi um defensor da cooperação internacional, sobretudo, entre os países do hemisfério Sul.
“Que no congresso (do G20) de setembro, seja pensado um pacto para o futuro, numa nova ordem global de governança, que foque na necessidade de que as estruturas internacionais tenham uma representatividade do que o mundo é hoje”, defendeu Bachelet.
O States of Future é realizado pelos ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), das Relações Exteriores (MRE), do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A organização é da Maranta e da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI). Apoiam o States of the Future a Open Society Foundations e a República.org.