Criação de um grupo permanente sobre o Estado no G20 é proposto hoje no States of The Future
O lançamento do "Arco da Restauração da Amazônia", a proposta de criação de um grupo permanente sobre o Estado no G20 e várias visões da crise climática foram temas da abertura do segundo dia do evento States of Future.
Enfrentar as várias crises que hoje estão expostas no cenário nacional e internacional, principalmente a ecológica, foi a tônica da abertura do segundo dia do evento States of Future, que acontece durante toda a semana na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.
A abertura do evento teve a participação de Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil da Presidência da República do Brasil, e Tereza Campello, diretora da divisão socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Segundo Campello, os Estados, independentemente do seu grau de desenvolvimento, não estão preparados para enfrentar as mudanças climáticas que já estão em curso. “Temos de trocar a asa com um avião voando atuando em duas frentes: organizar para enfrentar os extremos climáticos, mitigação, adaptação, reconstrução das nossas economias, ao mesmo tempo que prepara o Estado para enfrentar esses desafios”, afirmou a diretora.
Apresentou o projeto do “Arco da Restauração da Amazônia” que pretende restaurar 24 milhões de hectares até 2050, com uma meta intermediária de 6 milhões de hectares até 2030, que propõe a capturar carbono, preservar a biodiversidade e gerar emprego e renda, mobilizando diversas cadeias produtivas e tecnologias. A restauração florestal é vista como a única tecnologia viável em escala para captura de carbono, sendo essencial para manter o aumento da temperatura global dentro de limites seguros.
Foi enfatizado que o Brasil possui tecnologia e vontade política para liderar esse processo, necessitando de apoio e recursos, inclusive do setor privado. A colaboração de todos os setores da sociedade é crucial para o sucesso desta missão, que visa garantir a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento econômico da Amazônia.
Por sua vez, Belchior reforçou que um “Estado do Futuro” capaz de desenvolver e integrar capacidades internas, como planejamento e legitimidade, com capacidades externas, como cooperação internacional e governança global, é essencial para enfrentar a crise climática de maneira eficaz.
Ela destaca a necessidade de fortalecer a governança internacional relacionada às mudanças climáticas, enfatizando que a capacidade global é crucial para enfrentar este desafio. “Não nos basta sermos capazes de construir o ato da restauração, se os outros países também não fizerem esforços na mesma direção”, opina a secretária.
Além disso, outras questões como a regulação de plataformas tecnológicas e a tributação dos super ricos exigem um alinhamento global para evitar evasão fiscal e garantir um padrão de tributação internacional.
Internamente, o Estado precisa aumentar sua capacidade de planejamento a médio e longo prazo, superar a influência do mercado financeiro especulativo e fortalecer sua legitimidade como líder nacional. Isso inclui um diálogo transparente com atores estratégicos, como setor privado, trabalhadores, entes federativos e sociedade civil. A capacidade de interlocução e a transparência são fundamentais para que o governo consiga estabelecer e alcançar metas de transformação econômica, social e ambiental.
“É imperativo que o Estado caminhe na direção que a composição dos servidores públicos representam a diversidade da sociedade de cada país, e não da sua elite nacional. É importante que o Estado seja capaz, seja espelho da sociedade, só assim ele vai conseguir ter maior capacidade de implementar políticas públicas, ainda mais justas e inclusivas.”, sugere Belchior.
Por fim, traz a proposta de criação de um grupo permanente sobre o Estado no âmbito do G20, vista como uma medida concreta para avançar nesse debate.
Na Conferência Magna, Ha-Joon Chang, professor pesquisador do departamento de economia da SOAS University of London e codiretor do Centre for Sustainable Structural Transformation (CSST), revelou a sua preocupação com relação a crise climática que na sua opinião é a maior de todas.
“Passamos por várias crises ao longo da história. Porém, nosso tempo é o único em que a crise ecológica está, agora, rapidamente chegando ao ponto de não retornar. O que eu estou tentando dizer é que precisamos entender a natureza desse fenômeno corretamente se queremos encontrar uma boa solução para eles”, afirmou o professor.
Na palestra que proferiu “Megatendências, poli crises e mudanças geopolíticas: como entender as mudanças no mundo”, destacou que o viés social é evidente, pois as percepções de crise variam conforme o contexto socioeconômico e geográfico, refletindo desigualdades históricas e atuais.
Um segundo ponto destacado foi a possibilidade de uma “segunda guerra fria”, caracterizada pela crescente rivalidade entre Estados Unidos e China, que ameaça agravar a crise climática devido à desaceleração da cooperação internacional necessária para enfrentar esse desafio global.
O States of Future é realizado pelos ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), das Relações Exteriores (MRE), do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A organização é da Maranta e da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI). Apoiam o States of the Future a Open Society Foundations e a República.org.