Galeria Mercado é inaugurada em Salvador com o apoio da OEI Brasil
O espaço localizado no subsolo do Mercado Modelo conta com obras dos soteropolitanos Rubem Valentim, Mario Cravo Jr. e Vinícius S.A.
Com o apoio da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), e sob a gestão da Prefeitura de Salvador, foi inaugurado hoje um novo ponto turístico e cultural na capital baiana, a Galeria Mercado, no subsolo do Mercado Modelo.
O novo ponto turístico conta a história do edifício, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e com uma galeria de arte com peças dos artistas soteropolitanos Rubem Valentim, Mario Cravo Jr. e Vinícius S.A. O projeto foi pensado como um local de preservação da história do Mercado Modelo, destacando personagens de importância para sua história, como Camafeu de Oxóssi, Mãe Menininha do Gantois e Mestre Caiçara, e como mais um espaço para o panorama cultural e artístico de Salvador.
A Galeria Mercado é um espaço de convergência entre a vanguarda estética e a tradição popular, como destacado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi sobre a cultura brasileira. O conceito se traduz não só na historiografia do espaço, que é contada em uma linha do tempo, formada por imagens do mercado que foram restauradas, e nas obras expostas, mas também na iluminação do subsolo, pensada para dar destaque, também, à arquitetura do edifício.
Walter Júnior Pinto, subsecretário de Cultura e Turismo de Salvador; Luiz Carrera, secretário da Casa Civil de Salvador; Pedro Tourinho, secretário de Cultura e Turismo de Salvador; Leonardo Barchini, diretor da OEI Brasil, e Sérgio Guanabara, consultor da OEI Brasil, prestigiaram a inauguração.
Preservação da memória
Três obras de Rubem Valentim estão expostas. Todas em concreto, a execução das peças foi feita por uma equipe técnica habilitada seguindo as diretrizes dos projetos originais do artista, falecido em 1991. O artista sempre expressou seu desejo em ter suas obras de arte, fortemente inspiradas nas matrizes culturais e formadoras do país, tornadas públicas.
As peças de Mario Cravo Jr. são da série “Cabeças de Tempo”, produzidas na década de 80 e tendo como matéria prima madeira de expurgo do incêndio que acometeu o Mercado Modelo em 1984. A ideia é que a exposição dessas obras gere uma imediata conexão da arte com a própria história do edifício, além de ser uma homenagem ao artista no seu centenário.
A galeria terá ainda a exposição fixa “Lágrimas”, do artista soteropolitano Vinicius S.A, que passou por mais de dez cidades do Brasil, além de Las Vegas, nos EUA, e Frankfurt, na Alemanha. Com 15 mil lâmpadas remontadas, suspensas por redes de nylon, a exposição integra o imaginário que as pessoas têm sobre a cidade de Salvador, constituindo parte da ressignificação do subsolo do Mercado Modelo.
Imagens de São José e Nossa Senhora da Conceição
Durante as obras de requalificação do subsolo foram encontradas duas esculturas sacras, uma de São José e outra Nossa Senhora da Conceição, ambas sem registro de data. As duas obras passaram por requalificação e também estão na Galeria Mercado, como parte da exposição.
A escultura de Nossa Senhora da Conceição, em madeira, não possui autoria conhecida, mas sabe-se que foi doada por dois permissionários do Mercado, Homero Bellas das Horas (conhecido como Sr. Lula) e Arthur Silva Figueredo (conhecido como Sr. Tuca), na década de 1990. O intuito da doação era que as pessoas pudessem fazer orações ao visitarem o subsolo. O tipo de entalhe da escultura e os valores estéticos incorporados na obra têm características afrodescendentes. No dia 8 de dezembro é celebrado, anualmente, o Dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Bahia, e sua celebração é a festa religiosa mais antiga do Brasil. Sua igreja fica a poucos metros do Mercado Modelo, a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia.
A imagem de São José, também em madeira, foi produzida por Zé Eugênio, dado que foi possível obter pela assinatura na parte de baixo da obra. No entanto, as informações sobre o artista são escassas. É possível afirmar que se trata de uma escultura moderna, possivelmente do final do século XX.
A escultura foi mantida no mesmo local em que foi encontrada, integrando o espaço de instalação “Lágrimas”, de Vinícius S.A., definido há mais tempo. O artista interpretou o encontro da escultura como uma bênção de São José, já que sempre associou sua instalação ao santo, usando cânticos entoados durante as suas exposições. Ambas as obras têm ligação com as chuvas na sua dimensão do sagrado, que anunciam boa safra e fartura.