OEI é mediadora de painel sobre tecnologia na Semana de Inovação 2022
De mobilização social para solucionar problemas de comunidades ribeirinhas a questões sobre a soberania digital do Brasil, esses foram os temas abordados no painel O papel da tecnologia nos nossos tempos, na Enap, em Brasília.
Mediado por Rodrigo Rossi, coordenador Nacional da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), os painelistas Edgar Andrade, CEO do Fab Lab; Pedro Mazzarolo, Head of Living Lab da Ikone; José Luiz Nogueira, sócio e fundador da Cientik; e André Castro, subsecretário de Tecnologia da Informação do Ministério da Educação, apresentaram suas experiências, soluções tecnológicas, programas em desenvolvimento e em andamento.
Castro salientou o grande desafio que o Governo Federal e o País têm: “sabemos que contratar inovação e tecnologia não depende somente de marcos regulatórios, mas de pessoas engajadas em fazer isso acontecer na prática”. Recentemente, o Ministério fez um diagnóstico nas escolas públicas com relação à aprendizagem dos alunos em virtude da pandemia do Covid-19. “Encontramos alunos na sexta série com problemas gravíssimos de alfabetização (cerca de 60%). Matemática, no sexto ano, 1% conseguiu atingir a aprendizagem esperada. Esses são os ônus que a pandemia deixou na educação e que vamos lidar durante muito tempo. A gente entende que para recuperar e acelerar esse processo é com a inclusão e o uso da tecnologia dentro das instituições de ensino”. Nesse sentido, o MEC está desenvolvendo vários produtos a serem implementados nas escolas, mas que dependem da adesão de estados e municípios. “A gente ainda precisa avançar numa grande questão: isso precisa estar debaixo de uma grande estratégia – a educação digital”, finalizou.
Pedro Mazzarolo, da Ikone, falou sobre o projeto desenvolvido pela prefeitura do Recife entre 2015 e 2021, o Mais Vida. “Entendendo essa vocação das pessoas em inovar e transformar os territórios, o Mais Vida constrói junto com as pessoas do território a solução”, explicou, destacando a importância da primeira infância no processo de solução que pode envolver meio-ambiente, geração de renda e urbanismo, entre outros. “Entendemos como as crianças eram os expoentes principais de transformação daquele território. Quando a gente trazia as crianças para participar das oficinas e fazia as soluções pensando nelas, junto com elas vinha a família para estar desfrutando desse espaço”, relatou. A empresa desenvolveu uma plataforma em que conecta dois pontos: pessoas que têm problemas com pessoas que constroem soluções. E essas soluções podem vir de qualquer ponto do planeta, além do conhecimento gerado ficar à disposição dos que necessitam.
O terceiro painelista, Edgar Andrade, colocou as seguintes questões para reflexão: “como vai ser a escola do futuro? Como vai ser a cidade? Como as pessoas vão fazer negócios nessa cidade?”. Complementou sobre sua preocupação que a maioria das soluções inovadoras somente são implementadas nas capitais, raramente indo para o interior. Criticou a forma como a tecnologia foi utilizada nas escolas em gestões anteriores e afirmou: “A tecnologia não muda nada. Quem muda são as pessoas; criando experiências e oportunidades para que a galera veja sentido nessas tecnologias, e, a partir desse sentido, queira promover transformações reais. Acredito na construção de comunidades criativas de transformação”. Andrade destacou, ainda, que “acima de tudo, o processo de construção de comunidade é um processo de médio e longo prazo”.
José Luiz Nogueira, último painelista, falou sobre os impactos da pandemia, em especial na educação: “a pandemia mostrou para a gente que os governos não tinham qualquer plataforma ou solução que pudesse vencer a impossibilidade das aulas presenciais. Coube aos professores um grau de heroísmo de improvisar”. Reconheceu os avanços das medidas adotadas, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas destacou o papel da educação frente ao mundo novo (digital). “Se a educação não desenvolve as habilidades digitais que o mundo demanda, que profissionais, que cidadãos ela vai estar formando?”, destacou citando a substituição de profissionais no mercado de trabalho por instrumentos tecnológicos, como robôs. A preocupação do sócio e fundador da Cientik centrou-se na evasão de jovens do Ensino Médio. “A escola pode ser mais atrativa. Está descompromissada do mercado de trabalho. O mais novo que o livro (didático) apresenta é de 40 anos atrás. A gente vive uma época com mil meios de difusão e não é possível que a educação fique relegada a sempre uma coisa de baixa qualidade”, afirmou, apresentando a seguir as soluções tecnológicas da empresa para a formação de professores e de material para alunos. “Nós estamos levando para escolas públicas aquilo que nem os alunos das escolas das elites têm. Produção de conhecimento digital”, finaliza.
Espaço de proteção social e soberania
Após o momento de respostas dos participantes, o mediador Rodrigo Rossi destacou que o espaço escolar hoje é um espaço de proteção social. “Pensando na realidade do Brasil hoje, a escola não é só uma instituição de ensino, é um espaço de proteção social. Ele (o aluno) pode até ter acesso à internet, uma boa velocidade de banda larga, mas não um ambiente de aprendizagem”. Falou da experiência do co.liga, escola virtual de economia criativa da OEI: “o que a gente percebeu foi a necessidade de fazer parceria com os municípios para ofertarem ambientes de aprendizagem no contraturno. Em Salvador, os pais começaram a chegar mais cedo para fazer os cursos também. A escola ainda é um ambiente importante, não só por garantir uma banda larga, não só por ter um hardware para assistir aula, como também por ser um espaço de proteção social. Muitas vezes é a única fonte de alimentação saudável no dia”.
No encerramento do painel, Rossi colocou duas perguntas instigadoras aos painelistas: sobre investir em tecnologia nas escolas, mas sem ter o básico ainda (sem fome, por exemplo), e sobre soberania digital. As respostas concluíram que o investimento em tecnologia não dá para esperar, pois o mercado de trabalho tem vagas em aberto, demandando profissionais. No que tange à soberania, Castro respondeu que o Governo Federal hoje trabalha em colaboração com a iniciativa privada. “Quando a gente fala de big techs não tem para onde correr. A gente tem que estabelecer critérios que devem ser tratados com as empresas, principalmente no que tange à segurança. Hoje a gente tem uma norma que dá essas diretrizes, mas numa ótica de cooperação e não de isolamento”, finalizou.
A Semana da Inovação prossegue até amanhã, no formato híbrido, com atividades presenciais em Brasília, Recife e Rio de Janeiro, e com conteúdo exclusivo e interativo on-line.