A CILPE 2023 termina com um apelo à aposta na linguagem clara e ao incentivo à produção de conteúdos digitais em português e espanhol
O último dia foi dedicado ao poder das duas línguas no domínio da comunicação, com convidados como Manuel Fuentes García, director da agência de notícias EFE para as Américas, e João Alegria, da Fundação Roberto Marinho, no Brasil. A CILPE encerrou a terceira edição com cerca de 3.000 participantes durante os dois dias de conferência
Que futuro esperam as línguas portuguesa e espanhola no mundo da comunicação? Como promover uma linguagem clara e simples entre as administrações públicas e os cidadãos? Como incentivar a produção de mais e melhores conteúdos em contextos multimédia? Estas questões foram abordadas no terceiro e último eixo da Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola (CILPE), que terminou hoje em Assunção, e cujo debate foi focado nas potencialidades de ambas as línguas nos meios de comunicação e na Internet, bem como nos desafios de garantir uma “linguagem clara” e o acesso à informação pública na região.
O encontro, dinamizado pela Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), que nesta terceira edição conta com o apoio do Governo do Paraguai, debateu e reflectiu durante dois dias sobre os desafios e oportunidades para a comunidade ibero-americana representada pelas línguas espanhola e portuguesa em termos de educação intercultural, literatura e comunicação num mundo globalizado e hiperconectado. Nesta edição, cerca de 3.000 pessoas assistiram e participaram nas conferências em formato presencial e virtual.
Na sessão “As línguas e o espaço digital”, moderada por Enrique Vargas, coordenador do Espaço Cultural Ibero-Americano da SEGIB, foi dado ênfase ao desempenho das línguas espanhola e portuguesa na Internet. Daniel Pimienta, do OBDILCI, advertiu que é necessário formular “políticas linguísticas dedicadas ao ciberespaço e programas de alfabetização digital”, especialmente em ambas as línguas que “consomem mais do que produzem” e perante uma Internet que “será mais multilingue do que a humanidade”. Neste sentido, o perito argentino Daniel Prado sublinhou a necessidade urgente de “integração das línguas indígenas no espaço digital”, bem como de promover estudos sobre a realidade destas línguas na internet, a fim de aplicar políticas públicas adaptadas à realidade. Por último, João Alegria, Secretário-Geral da Fundação Roberto Marinho, do Brasil, apelou à reflexão sobre as transformações sociais que a região está a sofrer, as quais “têm um grande impacto na comunicação e na interligação entre as pessoas”.
Na sessão de encerramento intitulada “Comunicação clara: a procura da simplicidade num mundo complexo”, moderada por Manuel Fuentes, responsável da Agência EFE para as Américas, os especialistas participantes deram algumas notas sobre o que significa prestar atenção a uma comunicação eficaz. “A linguagem clara é difícil para quem não tem um raciocínio claro”, afirmou Bernardo Neri, membro da Academia Paraguaia da Língua Espanhola. Claudia Poblete Olmedo, especialista da Universidade Pontifícia de Valparaíso, disse que “as pessoas confiam nas instituições quando entendem o que lhes é dito”, o que garante uma melhor participação na democracia. A especialista espanhola Estrella Montolío, da Universidade de Barcelona, chamou a atenção para a linguagem usada pelas autoridades tributárias, que “mantém características da linguagem administrativa típicas de um estilo obscuro e anárquico”.
“Se falamos de linguagem clara, é porque existe uma linguagem obscura”, disse Fernando Bernabé Rocca, da Rede Argentina de Linguagem Clara, que explicou o funcionamento da lei que garante a comunicação clara naquele país. Segundo o especialista, “devemos levar a sério a política da linguagem clara para desconstruir a forma como somos formados”, já que “é possível recuperar o sentido de serviço público quando trabalhamos na burocracia”, observou.
A terceira edição do CILPE foi encerrada esta tarde, num evento que contou com a presença de Ladislaa Alcaraz, Ministra e Secretária Executiva da Secretaria de Políticas Linguísticas do Paraguai; Ana Paula Laborinho, Directora de Multilinguismo da OEI; Germán García da Rosa, Director da OEI no Paraguai, e José Arlindo Barreto, Reitor da Universidade de Cabo Verde, que recebeu o testemunho para a realização da CILPE em 2025 neste país lusófono da África insular.