Conferência “Mulheres e Meninas na Ciência”: a importância de desconstruir estereótipos e garantir a representatividade
A Conferência Mulheres e Meninas na Ciência decorreu esta terça-feira, 28 de fevereiro, no auditório da sede da CPLP, e contou com a participação da Diretora da OEI em Portugal, Ana Paula Laborinho, que foi moderadora do Painel “Meninas na Ciência”.
A Conferência, que faz parte de uma iniciativa da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) e do Programa Cartas com Ciência, teve como objetivo assinalar o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado no dia 11 de fevereiro, destacando a importância do acesso pleno e igualitário assim como da sua participação na ciência, tecnologia e inovação.
O painel moderado pela Diretora da OEI em Portugal contou com a presença de Gabriela Reznik, investigadora de pós-doutorado do Museu da Vida/Fiocruz-RJ, no Brasil, Dilchade Abdul Amide, investigadora da Associação de Estudantes Pesquisadores Inovadores de Moçambique, Marlene José, idealizadora do “laboratório de (re)escrita de textos”, e Denise Azevedo Camacho, doutoranda na Fundação Champalimaud.
“Sem parcerias, estes objetivos não os conseguiremos atingir” foi uma das afirmações de abertura da Diretora da OEI, na Conferência, frisando a importância da Agenda 2030 e, em particular, do Objetivo 17 – Parcerias e Meios de Implementação -, para alcançar as metas propostas e contribuir, neste caso, para fomentar o acesso e a participação de mulheres e meninas na ciência. Ana Paula Laborinho sublinhou a importância de incluir mulheres nas ciências, de modo a proporcionar focos de investigação diferentes, que não são colocados por investigadores homens.
Gabriela Reznik destacou a existência de múltiplos fatores que contribuem para a situação atual, onde as mulheres e meninas se afastam da carreira científica. “A divulgação científica pode ser uma solução para o problema”, afirmou, “porque democratiza o conhecimento e ajuda a construir uma cidadania científica.” A investigadora alertou que, por outro lado, também pode ser reprodutora de certos modelos hegemónicos, que reforçam o cenário atual, em vez de viabilizarem a mudança. Gabriela falou da relevância de alterar as narrativas culturais que, constantemente, fazem representações estereotipadas dos profissionais da ciência – homens brancos de meia-idade.
Dilchade Amide, investigadora moçambicana, destacou que no contexto do seu país, apenas 8% das estudantes universitárias entre 2013 e 2017 fizeram formação nas áreas das Ciências e Engenharias. A gravidez precoce, a falta de motivação e o apoio familiar insuficiente são alguns dos entraves identificados. Na Associação da qual faz parte, Dilchade Amide destacou que num universo de 20 participantes, apenas 3 são mulheres.
Marlene José, professora e investigadora da língua portuguesa, na sua apresentação do “Laboratório de (re)escrita de textos: um incentivo à participação das meninas na ciência”, falou das experiências desenvolvidas em São-Tomé, em parceria com as Cartas com Ciência, que têm levado meninas em idade escolar a várias sessões dedicadas à literacia científica e a desenvolver o interesse pelo conhecimento.
Denise Camacho, doutoranda da Fundação Champalimaud, falou de iniciativas que têm visado aproximar as meninas da ciência, apoiando a participação e promovendo a representação. A investigadora sublinhou a importância do reconhecimento das jovens e mulheres cientistas como uma forma de incentivar mais meninas a interessarem-se pela carreira científica. A falta de representatividade é, na opinião de Denise, um dos fatores que mais contribui para afastar a população feminina desta área.
De acordo com o relatório da OEI sobre a presença de mulheres na Ciência ibero-americana, apesar de representarem a maior parte da população graduada, este grupo representa apenas 44% das pessoas envolvidas em I&D. Para além disso, nas áreas STEM, o número de publicações que incluem autoras não supera os 30%.
A Diretora mencionou, também, o papel da OEI no apoio e incentivo à formação de meninas e mulheres, na investigação/ação sobre este tema e na quebra de estereótipos, com um trabalho orientado para a construção de vocações científicas e para tornar visível o trabalho das mulheres na ciência. No Equador, por exemplo, a OEI é parceira de uma iniciativa chamada “Somos Mulheres e Fazemos Ciência”, um projeto que reuniu 20 mulheres equatorianas investigadoras em diversas áreas – STEM e não só – para entrevistas que visam motivar estudantes a prosseguir carreiras científicas. Na Costa Rica, o projeto “Desenvolvimento das vocações” favorece o desenvolvimento profissional, abordando o género como tema transversal.
A OEI, em parceria com a Comissão Europeia, promove, também, o programa FORCYT, o primeiro programa integrado de Ciência na região, cujo objetivo é o apoio ao desenvolvimento de sistemas científicos e tecnológicos. O FORCYT tem como uma das linhas fundamentais o reforço do papel da mulher na Ciência, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.