Rota dos Tambores do Atlântico consolida rede de parceiros e arranca estudo científico com a Universidade de Aveiro

O projeto-piloto financiado pelo Camões, I.P. foca-se na valorização cultural ancestral, na ressignificação de heranças musicais históricas e no fortalecimento socioeconómico de comunidades ligadas à tradição percussiva afro-atlântica.
Nos últimos meses, a OEI estabeleceu contactos com várias entidades nos países envolvidos na Rota dos Tambores do Atlântico (RTA) – Brasil, Colômbia, Angola e Guiné-Bissau. O objetivo foi identificar pontos focais institucionais e comunitários, reforçar parcerias locais para a criação da RTA e alinhar estratégias com autoridades nacionais, municipais e organizações da sociedade civil, numa lógica de coconstrução.
Na Guiné-Bissau, está a ser desenvolvido um processo de ativação de redes locais e mapeamento de pequenos negócios e iniciativas culturais, com forte presença de mulheres empreendedoras, que poderão ser dinamizados através do projeto. A ONGD VIDA é a parceira destas atividades, através do seu Centro de Artes Cénicas Transdisciplinar de Bissau (UR-Gente). O mapeamento de artistas, tradições e negócios é conduzido em articulação com o coletivo Netos de Bandim.
Em Angola, a OEI está a trabalhar com a Direção Nacional da Formação Artística. Já foram realizadas diversas reuniões de coordenação com o objetivo de partilhar o plano de trabalho, trocar informações relevantes e recolher contributos estratégicos.
No Brasil, a RTA tem vindo a construir uma base sólida de cooperação com entidades como a Secretaria da Cultura de Salvador da Bahia, o Museu de Arte do Rio (MAR), a Fundação Pracatum, a Fundação Gregório de Mattos, entre outros. Em Salvador, destaca-se também a futura Escola de Música e Artes Letieres Leite, que terá como foco a rítmica afro-baiana. As atividades nos territórios serão desenvolvidas em articulação com a Escola do Olhar do MAR e com o Festival Salvador Capital Afro.
Na Colômbia, têm sido realizadas diversas reuniões de coordenação com entidades em Cali, Bogotá e Cartagena das Índias. Neste momento a rede de parceiros institucionais conta já com o Ministério da Cultura, o Instituto Distrital de Turismo de Bogotá e a Alcaldía de Cali (Secretarias de Cultura e Turismo).
Componente científica a cargo da Universidade de Aveiro
Também já arrancaram os trabalhos científicos, levados a cabo pelo Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança, da Universidade de Aveiro, que incluem um estudo aprofundado sobre a circulação, transformação e mediação de instrumentos de percussão entre África e a América do Sul. Os resultados serão lançados numa publicação com conteúdos multimédia, fontes e referências que contribuam para aprofundar o conhecimento sobre a Rota Atlântica dos Tambores.
O processo implica o desenvolvimento de trabalho de campo em Angola e na Guiné-Bissau em junho e julho de 2025, do qual vai surgir um relatório detalhado, incluindo documentação original e registos de contactos institucionais e comunitários. A investigação a cargo de uma equipa internacional multidisciplinar produzirá ainda quatro a seis artigos científicos, e preparará uma proposta de publicação digital.
Formação de pontos focais e agentes culturais numa perspetiva de sustentabilidade
A formação dos pontos focais e agentes culturais envolvidos é outra componente do projeto já em curso. Será dinamizada pela RUTEALC – incubadora de itinerários culturais da Ibero-América -, um programa coordenado pela OEI e pela empresa Trivium. O plano formativo será adaptado às necessidades dos agentes culturais e empreendedores locais das regiões-piloto.
Com início em setembro, foram estabelecidos três eixos para a formação: uma sessão aberta sobre boas práticas, um ciclo formativo sobre promoção do empreendedorismo e um programa de desenvolvimento de competências para as equipas técnicas. Estas formações visam capacitar os atores envolvidos na RTA, reforçando a sua atuação nas comunidades e promovendo a sustentabilidade das ações locais.
Encontros estratégicos
O processo de criação da rede de parceiros tem tido o apoio dos escritórios da OEI no Brasil e na Colômbia, regiões foco na fase piloto, mas também no Panamá e Honduras países onde que o projeto tem conhecido grande recetividade. Outros países sul-americanos e africanos, membros da CPLP, têm manifestado interesse em aliar-se à RTA, levando à realização de várias reuniões de trabalho.
Neste sentido, têm vindo a ser apoiadas atividades de divulgação e informação, entre as quais se destaca a organização de uma conferência «La Ruta de los Tambores del Atlantico» no Panamá, organizado com o apoio do escritório da OEI no país, e que contou com a participação do consultor do projeto Jordi Tresseras, e da Embaixada de Portugal no Panamá, em representação do Camões, I.P..
Por outro lado, está a ser delineado um processo de coordenação com a Universidade hondurenha José Cecilio del Valle que tem em curso um projeto sobre a comunidade Garífuna, intrinsecamente ligada aos instrumentos de percussão.