RTA na Guiné-Bissau: “o tambor é voz, alma e memória” do país

A Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) esteve na Guiné-Bissau, de 15 a 19 de julho, no âmbito das atividades da Rota dos Tambores do Atlântico (RTA), projeto financiado pelo Camões, I.P.
No passado dia 17 de julho o Ur-GENTE – Centro de Formação em Artes Cénicas Transdisciplinar de Bissau, foi palco de um dos momentos mais significativos do projeto: o workshop de levantamento participativo com diferentes atores relacionados com os tambores na Guiné-Bissau. Gerido pela VIDA ONGD, parceira da OEI na RTA, o Centro tem vindo a dar um novo fôlego à cultura guineense, desde 2021 e é o polo coordenador das atividades da Rota na Guiné-Bissau.
“A troca de experiências como a proporcionada pelo dia de hoje é essencial”, afirmou um dos participantes do encontro. O potencial cultural, educativo e turístico da Rota esteve em análise e foram identificados artistas (individuais ou grupos) e artesãos de instrumentos musicais. Os centros culturais e espaços de entretenimento com música ao vivo foram mapeados, bem como experiências de turismo comunitário.
Em grupos, foram trabalhadas propostas para a criação de um roteiro sobre a RTA como atividade de potencial rendimento para as comunidades e artistas que integram o projeto. Esta dinâmica destacou o valor, a riqueza e diversidade da cultura guineense, presente em diversos pontos do mundo, e o seu poder na criação de novos cenários de futuro para os jovens. “O tambor é voz, alma e memória da Guiné-Bissau”, destacou um dos participantes.
O encontro reuniu 30 representantes de associações culturais, artesãos, tocadores, especialistas, músicos e dançarinos. Participaram membros de organizações sociais como os Netos de Bandim, o Ballet Nacional/Grupo de Dança Contemporânea da Guiné-Bissau e originários da Aldeia de Tabato, reconhecida como um dos mais importantes centros da tradição griot na África Ocidental.
“A RTA valoriza a atividade de cada um”
Para os participantes, “a existência da RTA valoriza a atividade de cada um e pode fortalecer a identidade”. A criação de redes e modelos de articulação com as comunidades, organizações, autoridades locais, atores culturais e musicais das regiões abrangidas é um dos eixos de trabalho do projeto. Assim, pretende-se assegurar o seu envolvimento ativo no processo, contribuindo para o enriquecimento apropriado e sustentado.
A valorização do património imaterial ligado à percussão contribui para o fortalecimento de expressões culturais locais, reconhecendo o papel central das comunidades, devendo a RTA ser coconstruída a partir da história, tradições, rituais e valor dos tambores e outros instrumentos de percussão nos diferentes territórios.
Reforçar laços e estabelecer pontes
A equipa da OEI esteve reunida com o Grupo Cultural Netos de Bandim para uma visita ao espaço e conhecimento das atividades. Também visitou o Centro de Instrução e Formação Artesanal (CIFAP), onde reuniu com o diretor do Curso de Turismo Cultural e o Diretor da instituição. Na mesma semana, a OEI contactou com a Secretaria de Estado da Cultura, a Diretora Nacional de Cultura, a Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau e a Cooperação Portuguesa, para além de outras autoridades ligadas ao turismo.
No dia 18 de julho, realizou-se um concerto dos Super Kamarimba, no centro Ur_GENTE. Este concerto, para além de ter sido uma atividade aberta ao público de celebração da cultura afro-mandinga, serviu também para recolha de material de promoção para festivais e operadores internacionais.
Durante a missão técnica, a equipa reuniu com João Cornélio, diretor-executivo da Célula Nacional de Candidatura da Cidade de Bissau à Rede de Cidades Criativas da UNESCO através da música. Este contacto permitiu aprofundar informação sobre instrumentos, ritmos e danças tradicionais. Cornélio é especialista da temática e autor do Atlas dos Instrumentos Tradicionais da Guiné-Bissau.