A cultura é responsável por 1,7% dos empregos na Ibero-américa, segundo um estudo recente da OEI e Cepal
O estudo, lançado na Universidade de Alcalá (Espanha), centra-se em cinco áreas: oferta, consumo, emprego, comércio internacional e gastos públicos com a cultura nos países da região. Segundo o estudo, o setor privado é responsável por 96% de todos os empregos, 56% dos quais em micro-empresas.
Esta quarta-feira, 27 de Outubro, no auditório da Universidade de Alcalá de Henares, a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI) e a Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) apresentaram o estudo A contribuição da cultura para o desenvolvimento económico na Ibero-América. Trata-se de uma investigação conjunta da região, que apresenta os números mais atualizados sobre a contribuição da cultura para a economia da Ibero-América, com base em dados oficiais dos países relativos a aspetos como oferta, consumo, emprego, importações, exportações e gastos públicos no setor da cultura.
Durante a apresentação, Mariano Jabonero, Secretário-geral da OEI, destacou o valor da cultura na região, sublinhando que “cultura é riqueza e emprego”, pois “contribui entre 2% e 4% do PIB dos nossos países e gera milhões de empregos”. Também destacou que a OEI “está comprometida com as indústrias culturais e criativas como manifestação da nossa diversidade e potencial de riqueza”, e estudos como este “são valiosos porque fornecem evidências para a construção de políticas de sucesso nesta área”.
Alicia Bárcenas, Secretária Executiva da CEPAL, em mensagem de vídeo, destacou que o estudo, além de expor os debates teóricos que vinculam cultura e economia, “tenta dar resposta à grande tarefa que a reconstrução do setor cultural significará nos próximos anos, no contexto de uma recuperação em igualdade”. Por sua vez, Ernesto Espíndola, coordenador da CEPAL para esta publicação, advertiu que “o desenvolvimento da cultura é uma condição necessária para alcançar as metas da Agenda 2030”, ao mesmo tempo que explicou que a COVID-19 serviu de “alerta” para que os líderes tivessem em conta o valor da cultura nas suas economias.
Oferta e consumo cultural
O estudo adverte que, em geral, há um déficit acentuado na região em termos de oferta cultural, especialmente em setores como o patrimonial – tangível, natural e intangível – assim como apresentações artísticas, celebrações e artesanato. No entanto, com a digitalização que o setor conheceu, outros formatos foram reforçados, como os livros digitais, cuja proporção de títulos com registo ISBN em formato digital aumentou de 21% para 25% em 2017, atingindo a maior percentagem da década.
Com a pandemia, a aceleração da digitalização levou a um aumento sem precedentes no acesso à cultura online. O estudo observa que museus, galerias e livrarias abriram suas portas para visitas virtuais e ampliaram o acesso a livros digitais, numa região com dificuldades no acesso à Internet, com a Espanha e o Chile liderando com 85% e 82% respetivamente, e a Nicarágua em último lugar com 28%.
Em termos de consumo, Espanha, Brasil, México e Argentina apresentam os mais altos níveis de participação em atividades culturais, e o consumo de televisão e rádio continua a ser a atividade mais popular na Ibero-América. Portugal, com 46%, é o país ibero-americano em que os cidadãos mais visitam os museus, enquanto em Espanha e no Uruguai cerca de um quarto da população assistiu a um espectáculo de teatro no ano passado. Em termos de consumo de livros, Chile e Brasil estão na vanguarda, sendo que mais de dois terços dos seus habitantes leram pelo menos um livro em 2017.
Emprego: predominantemente no setor privado
Em 2019, o setor cultural representava 1,7% do emprego total na Ibero-América. De acordo com o estudo, o setor público continua a tendência decrescente da sua quota de empregos culturais: entre 2012 e 2019, a quota do setor público caiu 2,3 %. Em contrapartida, o setor privado lidera com 98,6% dos postos de trabalho, 56% dos quais são assegurados por microempresas.
No que diz respeito à composição e condições dos trabalhadores ibero-americanos do setor, é de notar que dois em cada três são homens, e a maioria deles tendem a ser mais jovens do que os trabalhadores do mercado de trabalho em geral. Isto, somado ao facto de que a taxa de desemprego entre os trabalhadores culturais ter sido de cerca de 26% em onze países ibero-americanos (Mercosul mais México e Costa Rica) entre julho e agosto de 2020, enquanto 55% dos auscultados relataram reduções de mais de 80% do seu rendimento, de acordo com outro estudo recentemente realizado por ambas as instituições, em conjunto com o Mercosul, o BID e a SEGIB.
Importamos mais do que exportamos
Em termos de comércio externo, o estudo mostra que a região importa mais bens e serviços culturais do que exporta. Com México e Espanha liderando o volume de transações internacionais nesta área, as importações da região em 2019 representaram quase 50 milhões de dólares – 4,4% do total da região – contra 43 milhões de dólares em exportações, o equivalente a 4,2% do total das exportações da Ibero-América naquele ano.
Em termos de gastos públicos, a região está próxima do objetivo comum de alcançar 1% do total da região, conforme acordado na XVI Cimeira de Chefes de Estado e de Governo em Montevideu, em 2006. Em 2019, com grandes diferenças entre países, o gasto público com a cultura oscilou entre 0,9%, e 0,23% do PIB ibero-americano, segundo o estudo.
Esta publicação faz parte de uma série de projetos de investigação conjunta realizados por ambas as organizações com o objetivo de gerar conhecimento para a formulação e implementação de políticas públicas no campo da cultura. Assim, destacam-se os estudos Avançar com um Espaço Cultural Partilhado. Desenvolvimento da Carta Cultural Ibero-Americana, realizado em 2012, e Cultura e Desenvolvimento Económico na Ibero-América, publicado em 2014.