Dia dos Povos Indígenas: pelo resgate e divulgação dos saberes ancestrais da Iberoamérica
Este 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, a OEI destaca a importância de valorizar as línguas e os saberes dos povos indígenas da região. Um aplicativo para aprender línguas indígenas ou um projeto para ensinar matemática com a milenar taptana são algumas de nossas iniciativas.
A enorme diversidade que hoje caracteriza a Ibero-América se deve, em grande parte, ao inestimável contributo social, cultural, linguístico e científico das centenas de grupos indígenas que habitam a região, uma população que deixou e continua deixando um importante legado em nossa sociedade contemporânea e deve ser preservado. Consciente desse dever, a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) está trabalhando em vários programas e projetos que se concentram, em particular, na preservação dos idiomas e dos conhecimentos científicos dos povos indígenas ibero-americanos.
Em 2023, por exemplo, a OEI, juntamente com a Universidade Intercultural de Nacionalidades e Povos Indígenas Amawtay Wasi e a Universidade Nacional de Educação – UNAE, apresentou a coleção “Taptana, conhecimento matemático em saberes ancestrais” que, após um rigoroso trabalho de pesquisa acadêmica e científica liderado por professores das duas universidades, inclui quatro cadernos pedagógicos contendo estratégias didáticas para que os professores possam estimular a aprendizagem de seus alunos por meio de ferramentas ancestrais como o contador cañari, a killa Taptana e o ábaco shuar, recursos poderosos que facilitam a aquisição e a compreensão das operações básicas de cálculo e raciocínio matemático.
Além disso, com o objetivo de entender e aprofundar a bagagem científica e cultural que os povos ancestrais construíram em torno da matemática, foi publicado recentemente o livro Matemáticas de los Pueblos Originarios de América, uma publicação que envolve professores e pesquisadores da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM), da Universidade Nacional de Educação UNAE do Equador, do Instituto Politécnico Nacional (IPN) do México e da Universidade Intercultural de Nacionalidades e Povos Indígenas Amawtay Wasi do Equador, e que está alinhado com o trabalho realizado pela organização na promoção do acesso aberto ao conhecimento, da ciência aberta e da revitalização das línguas no espaço ibero-americano.
Promoção de idiomas indígenas no ecossistema digital
De acordo com o relatório Línguas indígenas no mundo digital: inventário de recursos e carências, publicado pela OEI em fevereiro deste ano, as línguas indígenas ibero-americanas têm uma presença digital “muito baixa” em comparação com outras línguas indígenas da Ásia ou da África. Embora as línguas pudessem ganhar visibilidade por meio do universo digital, a escassez de protocolos, fontes, teclados e, em especial, a falta de acesso à Internet e de alfabetização digital das populações indígenas “ampliaram o fosso entre as línguas dominantes e as línguas indígenas, o que levou a uma integração tardia e lenta dessas línguas na Internet”, de acordo com o referido relatório.
Para contribuir a diminuir este fosso, a OEI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançarão em breve o aplicativo móvel ‘Lenguas’, que procura facilitar a aprendizagem e a disseminação das línguas originárias da América Latina e do Caribe. Atualmente, o aplicativo inclui a língua quechua Collao, estando esta fase piloto a ser desenvolvida em escolas nos departamentos de Puno e Cusco, no Peru. O aplicativo já está sendo usado por 7.000 alunos e 200 professores em 102 escolas para aprender esse idioma andino.
Assim que o piloto for concluído, ‘Lenguas’ estará disponível para o público em geral nas lojas de aplicativos Android e Apple, bem como em uma versão para desktop que pode ser usada em qualquer navegador da Web. Futuras versões do aplicativo acrescentarão novos idiomas indígenas, como aimara, guarani, maia guatemalteco ou uru, entre outros.
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No México, a OEI e o Governo nacional está finalizando a publicação do livro Contos e lendas México, que pretende revitalizar a tradição narrativa de vinte e oito povos indígenas do centro e do sul do país, em uma antologia de histórias publicadas em espanhol, português e em seus respectivos idiomas de origem. O livro estará disponível em versões impressa, digital e em áudio para maximizar sua acessibilidade também disponíveis em língua portuguesa, espanhola e língua indígena. No final da notícia é possivel descarregar um avanço do livro.
Escute aqui um conto em português:
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Línguas e direitos
Este livro, o inventário de recursos digitais em línguas indígenas e o aplicativo ‘Lenguas’ fazem parte da estratégia ibero-americana da OEI para a disseminação das línguas indígenas. Nosso objetivo é contribuir para a disseminação das línguas indígenas e reivindicar não apenas seu valor cultural único, mas também os direitos de suas comunidades.
Para fortalecer as democracias ibero-americanas, apoiar a sustentabilidade de nossas economias e combater as mudanças climáticas, é preciso ter comunidades indígenas resilientes, capazes de valorizar seu conhecimento e identidade ancestrais, além de preservar seus habitats e evitar as piores formas de superexploração dos recursos naturais.
Assim, com a implementação dessas iniciativas, a Organização dos Estados Ibero-Americanos reforça seu compromisso com o resgate e a promoção de centenas de línguas indígenas da região – a maioria delas em sério risco de desaparecer – bem como a valiosa contribuição de sua cosmovisão.