Especialistas alertam sobre a sobrecarga informativa dos cidadãos e o consequente afastamento em relação às instituições, em fórum da OEI

O debate ocorreu no âmbito do II Fórum “Ibero-América em Democracia", plataforma impulsionada pelo secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, e pelo presidente da Fundação EuroAmérica, Ramón Jáuregui.
Nesta segunda-feira, especialistas em comunicação se reuniram na sede da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), em Madri (Espanha), para celebrar o II Fórum Universitário “Ibero-América em Democracia”: “A democracia na encruzilhada – Como os novos fluxos de informação e poder transformam a vida pública”, organizado em conjunto com a Universidade de Alcalá de Henares (UAH).
A segunda edição desses encontros, que buscam promover o diálogo entre gerações sobre questões relevantes para a democracia atual, concentrou-se nos desafios impostos pelos novos fluxos de comunicação e seus efeitos nas sociedades modernas e na vida pública. Essa série é promovida pela “Ibero-América em Democracia”, uma iniciativa do Secretário-Geral da OEI, Mariano Jabonero, e do Presidente da Fundação EuroAmérica, Ramón Jáuregui, como uma plataforma para abordar os desafios contemporâneos da democracia na região e promover seu fortalecimento.
Nessa ocasião, a proposta foi aprofundar o contexto atual dos avanços tecnológicos, como a Inteligência Artificial, os fluxos massivos de informação, as notícias falsas ou a exclusão digital, e como eles representam um risco para a democracia, substituindo o debate crítico pelo imediatismo e a emoção do viral, resultando em barreiras ao exercício efetivo dos direitos dos cidadãos.
O próprio Jabonero foi o responsável pela inauguração desse fórum, no qual fez um chamado para trabalhar “para que não levar em conta a opinião dos outros seja uma prática incomum, e não a norma”. Ele também destacou o valor da linguagem clara como “o direito de entender o outro para poder participar” e listou as prioridades da OEI nessa área: “primeiro, defender a verdade como um valor comum que prevalece sobre a polarização; segundo, neutralizar o poder do capitalismo da informação; e, finalmente, defender o valor do diálogo e da argumentação, para reconhecer que o outro pode estar certo”.
A política do espetáculo
Em seguida, houve uma mesa redonda, presidida por Jáuregui, com a participação de Gabriela Cañas, jornalista e ex-presidente da Agência EFE, e Antonio Martín, representante na Espanha da plataforma internacional da PLAIN Language Association.
Jáuregui iniciou o debate destacando o fato de que “quando o Muro de Berlim caiu, acreditávamos que estávamos caminhando em direção às democracias”, mas não foi o que aconteceu e, além disso, “a informação, que sempre foi a espinha dorsal da confiança” nesses sistemas, “se deteriorou”.
“Estamos na política da estupefação, porque a infodemia [excesso de informação] está deixando as pessoas atordoadas”, disse Cañas. “As redes sociais têm sido fundamentais nesse processo, porque oferecem muitas informações, mas elas não são contrastadas, e hoje as informações não são valorizadas por sua qualidade, elas só importam pelo peso”, acrescentou.
“Nesse contexto, os políticos assimilaram esse sistema de comunicação e o que sempre funcionou continua funcionando: a política do espetáculo, na qual não se trata de convencer, mas de ganhar”, continuou o jornalista, “e o problema é que os bons políticos também foram infectados”.
Para concluir, ela lamentou que “nessa guerra da mídia contra os gigantes digitais, a mídia tradicional foi arruinada e, além disso, perdeu sua credibilidade”.
A importância da divulgação
Martín começou alertando sobre o “descontentamento dos cidadãos com as instituições” porque “as instituições confundem a posição de respeito com uma pomposidade que faz com que as pessoas não se sintam próximas a elas”, bem como a falta de “educação sobre o papel do Estado”.
“A transparência não é apenas uma questão de linguagem, ela envolve muitas medidas para que os cidadãos possam ver claramente o que está à sua frente”, continuou ele, porque “há uma distância que foi forjada ao longo dos anos e agora é difícil desmantelá-la”.
No entanto, o CEO da Cálamo y Cran não desistiu da questão e alude ao fato de que “a solução é a disseminação, que não é apenas uma questão de informar, mas também um exercício de empatia, que é mais importante do que nunca”.
Finalmente, Julio Cañero, vice-reitor de Relações Internacionais da UAH, encerrou o evento indicando que “as tecnologias criam novos preconceitos e, na Ibero-América, onde a democracia tem sido tão difícil de construir, a defesa da compreensão tem um valor ainda mais profundo”.
O II Fórum “Ibero-América em Democracia”, que foi gravado e em breve estará disponível no canal da OEI no YouTube, faz parte dos diferentes conteúdos dessa plataforma, que também inclui entrevistas, artigos de opinião e podcasts que exploram o tema da democracia na região a partir de diferentes perspectivas e abordagens.