Fórum da OEI analisa até onde podem chegar as tensões nas democracias ibero-americanas

O fórum foi organizado pela plataforma “Ibero-América em Democracia”, promovida por Mariano Jabonero, secretário-geral da Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), e Ramón Jáuregui, ex-deputado do Parlamento Europeu.
Nesta quarta-feira, especialistas e personalidades relacionadas às áreas de democracia e governança na Ibero-América se reuniram na Universidade Camilo José Cela, na capital espanhola, para o I Fórum “Ibero-América em Democracia”, intitulado “División de poderes: ¿cuánta tensión soportarán los controles y equilibrios para asegurar la democracia?”, um espaço promovido pela Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI).
O fórum, que pretende ser um ponto de encontro para o diálogo intergeracional, é o primeiro a ser realizado no âmbito da plataforma “Ibero-América em Democracia”, lançada este ano por Mariano Jabonero, Secretário-Geral da OEI, e Ramón Jáuregui, ex-deputado do Parlamento Europeu, com o objetivo de abordar os desafios contemporâneos da democracia na Ibero-América e contribuir para o seu fortalecimento.
Moderado por Álvaro García Mayoral, pesquisador da Fundação Carolina, o evento foi apresentado pelo Reitor da Universidade Camilo José Cela (UCJC), Jaime Olmedo, que saudou a realização deste encontro “necessário”, já que “a tensão deve ser vista como um mecanismo que permite o crescimento da democracia”. Por sua vez, Mariano Jabonero destacou que “este primeiro fórum da plataforma Ibero-América em Democracia nasceu porque é um tema atual desde a Patagônia até o Rio Bravo, uma tensão cada vez mais invasiva, e por isso vale a pena perguntar até onde pode chegar.”
Fernando Carrillo Flórez, jurista e ex-procurador-geral da Colômbia, pontualizou que “mais do que tensões, são ameaças claríssimas. Tudo o que era visto como uma ameaça à democracia agora é uma realidade, são ataques contra ela. A questão é quão fortes são as instituições para enfrentá-las e, infelizmente, elas são fracas porque são ataques novos”, afirmou.
Também remarcou que “o autoritarismo, o caudilhismo e o populismo são uma combinação tóxica na América Latina, tanto à direita quanto à esquerda. Se há uma crise neste momento, é a crise dos órgãos representativos e a politização da justiça”.
Para Elsa Arnaiz, presidenta da Talento para o Futuro, “a juventude hoje está perdida entre a hiperinformação e a desinformação, e presa pelos algoritmos. Os jovens acreditam que participam, acreditam que têm voz nas redes sociais, mas muitos dos proprietários dessas grandes redes sociais já tiraram suas máscaras e vimos que não há democratização, é uma ilusão. Grande parte da responsabilidade é dessas empresas e não estamos sabendo lutar contra isso”, destacou.
Cándido Méndez, secretário-geral da UGT-E entre 1994 e 2016, ressaltou que “os países com a mais alta qualidade de democracia são aqueles com a mais forte tradição sindical” e que também “somos presas fáceis para os algoritmos. Com a IA, é importante destacar a dignidade do trabalho como um pilar fundamental da democracia na Ibero-América”, assegurou.
Ana Simoneta Rubido, administradora civil do Estado no Ministério da Transformação Digital e Função Pública da Espanha, defendeu o papel dos funcionários públicos como a primeira linha de defesa contra os abusos de poder. “Diante do discurso de motosserras e cortes que está ganhando força entre os cidadãos, é importante frisar que os funcionários públicos são o primeiro contrapeso que age contra o abuso do Estado. É o que está acontecendo nos Estados Unidos com Trump, que desmantelou sua estrutura de funcionários públicos de alto escalão em seu segundo mandato, e agora sua gestão responde a um interesse clientelista”, explicou.
O encontro foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube da OEI e é o primeiro dos fóruns universitários previstos no âmbito de uma série de conteúdos da plataforma “Ibero-América em Democracia”, que inclui artigos de opinião, entrevistas e podcasts que refletem sobre o estado da democracia na região.
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