Qual é o estado da ciência aeroespacial na Ibero-américa? A OEI analisa-o num estudo
14 países da região têm iniciativas nacionais para o estudo do espaço. Argentina, Brasil e Espanha lideram a corrida ao espaço na Ibero-américa. Estes dados são apresentados no relatório de diagnóstico sobre a ciência espacial na Ibero-américa, publicado pela Organização de Estados Ibero-americanos (OEI).
Nos últimos anos, a Ibero-américa tem dado passos notáveis na promoção da ciência aeroespacial. É o que revela o relatório “Diagnóstico sobre a Ciência Espacial na Ibero-América”, elaborado pela OEI, que assinala, por exemplo, que cerca de quinze países da região coordenaram iniciativas públicas a nível nacional, especialmente dedicadas à promoção de atividades espaciais, à investigação e ao desenvolvimento desta ciência, bem como à especialização dos recursos humanos neste sector.
De acordo com o estudo, o grau de desenvolvimento da tecnologia espacial é variável. Há países como o Brasil, a Argentina ou a Espanha que atingiram os níveis mais altos da escala utilizada neste relatório, denominada “Space Technology Ladder”, uma espécie de “caminho padrão” que um país segue à medida que desenvolve as suas capacidades espaciais. Por outro lado, existe um grupo intermédio de países como a Bolívia, o México, a Venezuela, Portugal, o Chile, a Colômbia, o Equador ou o Peru, com uma experiência significativa na gestão de grandes satélites e na observação da Terra.
Há também um terceiro grupo de países, como o Uruguai, a Costa Rica, El Salvador, a Guatemala e o Paraguai, que lançaram um satélite e têm alguma experiência na sua exploração e nas tecnologias de desenvolvimento. Os restantes países não dispõem de tecnologia para desenvolver satélites, embora tenham experiência na utilização de dados espaciais, como o Panamá, que instalou um centro de dados Copernicus (da União Europeia) para facilitar a distribuição desta informação na região.
O relatório permite concluir que os países da região necessitam de reforçar os mecanismos de promoção da I+D, da inovação e do desenvolvimento, bem como da comercialização de novas tecnologias para a exploração espacial. Por outro lado, a transferência de conhecimento e a colaboração entre atores científicos e tecnológicos, bem como atores públicos e privados, podem potenciar as áreas estratégicas de cada país e impulsionar a utilização da tecnologia espacial para as telecomunicações, o uso da terra e dos oceanos, os estudos climáticos e a navegação, entre outros.
Por seu lado, o Observatório Ibero-Americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade (OCTS) da OEI, com sede em Buenos Aires, identificou a existência de mais de trinta instrumentos ativos na região para promover a corrida espacial em diversas áreas como a formação de recursos humanos, incentivos à I+D, promoção da inovação empresarial e divulgação científica e tecnológica. Neste sentido, chama a atenção o facto de quase metade destes instrumentos serem dedicados à formação de recursos humanos de alto nível, o que demonstra a importância que os países ibero-americanos estão a dar a esta questão para o futuro. Em alguns casos, trata-se de programas de pós-graduação, embora também existam programas mais curtos e estágios de formação, segundo o observatório.
Um novo impulso para a rede ibero-americana
Este relatório é apresentado como um contributo significativo para a definição da agenda de trabalho proposta pela Rede Ibero-americana de Agências Aeroespaciais, coordenada pela OEI desde 2023, uma rede que surgiu como parte do mandato conferido à organização durante o Fórum Ibero-americano de Alto Nível sobre Ciência e Tecnologia, realizado em Buenos Aires a 20 de outubro de 2022. A iniciativa visa conjugar esforços para o desenvolvimento da ciência aeroespacial na região, através da coordenação de ações de cooperação científica entre agências ibero-americanas.
A Agência Espacial Portuguesa detém, atualmente, a presidência do Conselho Diretivo da rede, por decisão unânime na sua primeira reunião, realizada em Lisboa, no passado mês de maio.
“A rede irá promover o diálogo, a diplomacia espacial e a aproximação entre os Estados, o mundo académico e as empresas que irão liderar esta economia espacial, sem esquecer a necessidade de todos os projetos terem um impacto positivo do ponto de vista social e ambiental”, afirmou Ricardo Conde, presidente da agência portuguesa e novo presidente da rede, durante a reunião.