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Especialistas debatem presente e futuro da carta cultural ibero-americana no segundo dia de comemorações de seu 15º aniversário
05 de novembro de 2021
Uruguai
Cultura
No segundo dia de atividade das comemorações pelos 15 anos da Carta Cultural Ibero-americana (CCI), especialistas de toda a região refletem a respeito da relevância do documento, uma década e meia depois de sua aprovação como o primeiro documento de caráter regional que aborda a cultura como valor estratégico para o desenvolvimento social e integração da Ibero-américa. Os atos tiveram início na manhã do dia 4 de novembro com os encontros acadêmicos do Congresso Ibero-americano de Cultura e com a cerimônia de lançamento, que aconteceu no Auditório Nacional del SODRE, assim como com o descerramento da escultura Homenaje a la flor del Ceibo, do renomado artista uruguaio Pablo Atchugarry, na Praça Independência.
Na manhã do dia 5 de novembro, a conferência principal A atualidade e relevância da Carta Cultural Ibero-americana aconteceu no edifício do Mercosul. Especialistas ibero-americanos em conversa com Natalia Armijos, diretora geral de Cultura da OEI, debateram sobre a importância do documento e ressaltaram o papel decisivo que, uma década e meio depois, segue desempenhando a CCI. Neste sentido, Hugo Achugar, diretor do mestrado em Políticas Culturais da UDELAR do Uruguai, afirmou que “a crise é uma oportunidade para a mudança” e, quem sabe também seja, “uma oportunidade para uma revisão da Carta, uma vez que o cenário de hoje é muito diferente de quando a Carta foi aprovada”. Achugar também salientou o valor da Carta Cultural Ibero-americana por ampliar o foco da prática cultural como pela sua relevância.
Juan Luis Mejía, ex-ministro de Cultura da Colômbia, destacou que a informatização, acelerada pela pandemia, foi “o evento que mais tem marcado os últimos anos em matéria de cultura”, mesmo assim, segundo ele, a Carta segue necessária uma vez que “sua criação foi visionária”. No mesmo sentido, Beatriz Barreiro, da Universidade Rey Juan Carlos de España, enfatizou que a Carta tem um potencial importante pois contempla valores fundamentais e pioneiros como a memória coletiva e do reconhecimento à diversidade racial, “vínculos imprescindíveis aos direitos culturais”. Advogou ainda contra a apropriação indígena e contra os atropelos produzidos no âmbito digital.
Por último, Jesús Prieto, especialista espanhol em Direito Cultural, destacou que a Carta deve ser lida como um elo importante, “bem avançado e de qualidade para os direitos culturais”. Prieto lançou a retórica se a Carta Cultural Ibero-americana tem futuro. A resposta afirmativa veio em seguida, pois o futuro é feito dos valores e princípios ali contidos, acrescentando a necessidade de que a “Ibero-américa também valorize a Carta de maneira mais política”.
Mais tarde, a discussão se concentrou na transcendência da Carta para alcançar os 17 objetivos propostos na Agenda 2030, e naquilo que a cultura possui de mais significativo. Durante o colóquio – moderado por Carolina Ferreira, assessora da Agência Uruguaia de Cooperação Internacional –, Ernesto Ottone, secretário geral de Cultura da Unesco, relembrou que recentemente o G-20, ou seja, 80% do PIB mundial, incluiu pela primeira vez a cultura como parte da agenda do futuro e da coesão social, o que ao seu ver é um significativo gesto para o mundo. Por sua vez, Adrián Bonilla, diretor executivo da Fundação EU-LAC, assinalou que a cultura é articuladora, sobretudo nestes momentos em que a coesão social é mais importante do que nunca, após os efeitos da pandemia na região, como o crescimento da pobreza extrema. Federico Buyolo, do Ministério da Educação e Formação Professional da Espanha, destacou que “a Agenda 2030 é uma agenda cultural, que nos permite construir uma cidadania global, mais criativa, coesa, próspera e sustentável. A Agenda 2030 não é um agenda-fim, mas sim um novo contrato global.
Por fim, no debate sobre o futuro da carta, 15 anos depois de sua aprovação, especialistas da região refletiram sobre os novos horizontes do documento, em uma conversa com Pilar Sánchez Llorante, diretora do Centro Cultual da AECID em Montevidéu. No colóquio, Joan Álvarez Valencia, codiretor de Criatividade e Liderança Cultural da Fundação Ortega – Marañón da Espanha, afirmou que “a cultura deve se abrir para as colaborações público-privadas e fazer um esforço de integração”. Por sua vez, Marta Porto, jornalista brasileira especializada em Cultura pontuou quatro dimensões sobra as quais deve-se refletir para uma transformação da cooperação cultural, que são: a crise da democracia e da representação, a crise humanitária, a crise ambiental e as demandas da juventude, de gênero e antirracistas. Por último, Enrique Vargas, coordenador do Espaço Cultural Ibero-americano (SEGIB), defendeu que a sociedade não se esqueça de documentos como a Carta Cultural Ibero-americana.
As atividades continuam na tarde desta sexta-feira, 5, com debates que voltarão os olhares para o desenvolvimento da indústria cultural em questões como informatização, propriedade intelectual e o fortalecimento da economia criativa na Ibero-américa como motor do desenvolvimento econômico e social.