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Começam as comemorações do 15º aniversário da Carta Cultural Ibero-Americana em Montevidéu
04 de novembro de 2021
Uruguai
Cultura
Nesta manhã, em Montevidéu, começaram oficialmente as atividades comemorativas do 15º aniversário da Carta Cultural Ibero-Americana, documento aprovado pelos chefes de Estado e de Governo nesta mesma cidade em 2006, e que, depois de 15 anos, continua sendo considerado o acordo mais importante na área da cultura na Ibero-América. A capital uruguaia prepara-se em grande estilo para ser o palco das atividades programadas em diferentes pontos da cidade, nos dois dias de comemoração.
A comemoração, liderada pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e pelo Governo do Uruguai, inclui uma variada programação de atividades acadêmicas realizadas no Congresso Ibero-Americano de Cultura, composto de sete mesas-redondas e uma palestra magna, que pode ser seguida via streaming pelo canal do Youtube da OEI. O congresso reúne cerca de trinta especialistas e personalidades da região, que estão analisando os desafios da cultura ibero-americana, com o objetivo de abordar novos fatores, como a transição digital e a propriedade intelectual.
Além das apresentações realizadas no edifício do Mercosul, o ato inaugural acontecerá nesta quinta-feira à tarde, às 16h30 (hora local), no Auditório Nacional do SODRE, com a presença do presidente da República Oriental do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e do secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, assim como de outras altas autoridades. Os artistas Julio Bocca, Embaixador Itinerante da Carta Cultural Ibero-Americana, e Pablo Atchugarry também receberão o reconhecimento por suas carreiras artísticas. Também está prevista a apresentação de uma obra do escultor Pablo Atchugarry, que ficará exposta na Plaza Independencia.
Este evento, que coincide com a celebração do Ano Internacional da Economia Criativa para o Desenvolvimento Sustentável em 2021, também tem o apoio de inúmeras instituições públicas e privadas, entre as que se destacam a Presidência do Uruguai e os Ministérios da Educação e Cultura e Relações Exteriores do país, o SODRE, a Agência Espanhola de Cooperação e Desenvolvimento, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Unesco, a CEPAL e a plataforma Netflix, esta última com um stand informativo com dados relativos às novas profissões que estão surgindo no meio audiovisual da região.
Primeiras reflexões do congresso
Esta manhã, no edifício do Mercosul, começaram os primeiros encontros de alto nível do Congresso Ibero-Americano de Cultura. No debate O impulso às indústrias criativas e culturais a partir da gestão municipal, moderado pelo especialista da OEI Colômbia, Fernando Vicario, vários especialistas ibero-americanos discutiram sobre os fatores e indicadores que determinam o papel dos municípios e dos governos locais no desenvolvimento cultural. Durante sua exposição, Diana Acosta, secretária de Cultura e Patrimônio do Atlântico (Colômbia) enfatizou que é necessário entender a magia do local, a diversidade do território ao elaborar políticas públicas no campo da cultura.
Por sua vez, Nicolás Aznárez, presidente das Indústrias Audiovisuais da Zona Franca do Uruguai, assinalou que na região "devemos buscar uma forma de união para que as políticas locais sejam mantidas ao longo do tempo". Marcos Pérez, prefeito do Departamento de Florida (Uruguai), destacou a importância do setor privado na canalização de expressões culturais e ressaltou que "é necessário captar a geografia do humano, essa sinergia entre a indústria e o artista". Laura Raffo, presidenta do Centro de Estudos Metropolitanos de Montevidéu, também ressaltou que não deve haver uma dicotomia entre desenvolvimento econômico e investimento em cultura. O debate também refletiu sobre a exclusão digital nos territórios locais.
Na mesa-redonda Contribuições da Sociedade Civil e Fundações para o desenvolvimento da Carta CulturaI Ibero-Americana, responsáveis de organizações não governamentais, moderados por Inmaculada Ballesteros, diretora do Observatório de Cultura e Comunicação da Fundação Alternativas da Espanha, debateram sobre a importância das redes de cooperação e seus principais desafios para garantir a sustentabilidade em um setor que foi especialmente atingido pela pandemia. Eduardo Sarón, diretor do Itaú Cultural do Brasil, afirmou que "não há desenvolvimento humano sem direitos culturais", enfatizando também a necessidade de a cultura considerar a equidade como "um aspecto fundamental em um século XXI marcado pela ansiedade e pela desigualdade". Por outro lado, Maximiliano Factorovich, responsável pelo Desenvolvimento Institucional na Wingu (Argentina), destacou que "o mundo da tecnologia é complexo e acelerado, e por isso é necessário que sejamos alfabetizados no que diz respeito à cultura que consumimos todos os dias". Da mesma forma, Pablo Casacuberta, diretor do Gen, Centro de Artes e Ciências do Uruguai, salientou que "um dos efeitos colaterais da pandemia foi o fato de a ciência ter entrado no imaginário público como parte da vida cotidiana. O Plano Ceibal só agora está se tornando uma identidade". Casacuberta também defendeu a anulação da ideia de identidade cultural como exclusivamente ligada ao âmbito das artes para pensar mais na identidade como uma dimensão que deve ser construída coletivamente.
No último encontro da manhã, o foco foi a contribuição da cultura para o desenvolvimento econômico na Ibero-América. Foi moderado pela diretora-geral de Cultura da OEI, Natalia Armijos, que abordou os números apresentados em um recente estudo da OEI e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) sobre este tema. Mariano Jabonero, secretário-geral da OEI, apontou que no setor cultural, a cumplicidade dos diferentes atores públicos, sejam eles governos estaduais ou municipais, é decisiva, defendendo também a concessão de incentivos fiscais para facilitar o trabalho dos criadores. Durante seu discurso, Jabonero também falou sobre o respeito à propriedade intelectual e enfatizou que "a cultura é essencial para o bem estar das sociedades". Este mesmo argumento foi apoiado por José Javier Gómez-Llera, embaixador da Espanha no Uruguai, que salientou que "o papel dos governos é fundamental para o relançamento da atividade cultural", uma cultura que "agora é digital e veio para ficar". Por sua vez, Ernesto Espíndola, da Divisão de Desenvolvimento Social da CEPAL, sublinhou que, para aumentar a oferta cultural, é preciso incentivar o consumo e, principalmente, apoiar as médias e microempresas, que são responsáveis por mais de 90% do emprego cultural na região. Para finalizar, Aldo Valentim, secretário nacional de Economia Criativa e Diversidade Cultural do Brasil, assegurou que "devemos voltar ao conceito de cultura, no contexto das políticas públicas, como uma ideia transversal, com seu papel de transformação social e econômica".
A primeira parte da sessão da manhã foi encerrada pelo secretário-geral da OEI. Mariano Jabonero ressaltou que a cultura é estratégica não só para a OEI ou para a cooperação internacional, mas também como um eixo transversal que tece a identidade ibero-americana.