O conselho assessor da OEI debate sobre a transformação da educação
A V Reunião Anual do Conselho Assessor da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) prosseguiu hoje com uma roda de conversa sobre as linhas de trabalho desenvolvidas pela organização, tendo em vista a transformação da educação.
A Secretária de Educação da Argentina, Silvina Gvritz, participou da abertura da sessão e destacou que “o objetivo é realizar uma discussão que seja útil para o desenvolvimento de políticas públicas no campo da educação que tendam à justiça educacional, que sejam sustentáveis e que consigam melhorar a qualidade da educação em todos os países que integram a OEI”.
Na sequência, o presidente do Conselho Assessor da OEI, o sociólogo uruguaio Renato Opertti, enfatizou que “temos que construir um futuro melhor e com mais oportunidades”. “Para isso, temos que formar novas nações, uma nova maneira de agir. Esse é o desafio que enfrentamos”, acrescentou.
Os 36 membros do Conselho Assessor, entre os quais se incluem professores universitários de prestígio, economistas e diretores da Unesco, da FLACSO e do Banco Mundial, participaram do debate.
Lições aprendidas com as políticas educacionais da região
Após a abertura, foi realizado o primeiro painel de discussão, “Políticas educacionais na região ibero-americana: lições de gestão”. Moderado pelo diretor da Faculdade de Educação da Universidade de San Andrés e membro do Conselho Assessor, Axel Rivas, vários membros desse órgão foram divididos em dois blocos para apresentar as políticas e estratégias educacionais na Ibero-América que consideram valiosas em termos de redução da desigualdade e das lacunas sociais e educacionais, transformação digital e seu impacto na forma de ensinar, aprender e avaliar, e melhoria da qualidade e da equidade da aprendizagem.
O primeiro bloco foi composto pela secretária-geral da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), Josette Altmann; pela diretora do Museu da Vida Rural, Presidente da ConArte International e da Fundação INTERARTS, Gemma Carbó; pelo diretor de Educação da Fundação Santillana no Peru, Hugo Díaz; pelo especialista em desenvolvimento e gestão de políticas públicas setoriais, Gustavo Gándara; e por Claudia Uribe Salazar, diretora do Escritório Regional de Educação da Unesco para a América Latina e o Caribe.
Josette Altmann apontou que “o que nos une aqui hoje é a preocupação de promover a igualdade de condições por meio de políticas públicas”. “Temos que analisar como reduzir as lacunas de digitalização e proporcionar maior investimento nos orçamentos de educação”, acrescentou. Por outro lado, Gemma Carbó salientou: “Acredito firmemente que as artes são estratégicas para essas mudanças educacionais (…) Elas são uma forma muito interessante de pedagogia para motivar os professores, garantir que as crianças não abandonem os estudos e para reduzir as lacunas de desigualdade”.
Hugo Díaz ressaltou que “a América Latina está acostumada a projetos educacionais densos. Temos que racionalizar e nos concentrar no que é mais importante, em um aprendizado mais duradouro”. Por sua vez, Gustavo Gándara indicou: “50% da população latina não tem acesso aos direitos e é excluída. Devemos começar a ver a maioria que está fora do sistema e a educação é parte desse processo de transformação”. Para finalizar, Uribe Salazar considerou que “a educação não tem um fim individual, seu papel é social. Ela faz parte da agenda para transformar as sociedades e o mundo em que vivemos”.
O segundo bloco foi composto por Alejandro Ganimian, professor assistente de Psicologia e Economia Aplicada da New York University; Maria Helena Guimarães, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional e professora do Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação da Universidade de São Paulo; Magaly Robalino, pesquisadora em políticas públicas e questões sociais, educacionais, culturais e ambientais; e José Henrique Paim, professor da FGV-EBAPE e diretor do Centro de Gestão Municipal e Políticas Educacionais da FGV.
Alejandro Ganimian falou sobre os benefícios do modelo educacional implementado em Mendoza e refletiu: “O senso de prioridade nos ajuda a focar, assim como os dados confiáveis, a obsessão pela execução, a comunicação – internamente com gestores escolares e professores e externamente com uma estratégia de mídia – e, por fim, a implementar ideias”.
Maria Helena Guimarães apontou: “Estamos preocupados com o pouco uso dos dados. Os professores e diretores de escola têm dificuldade em utilizar os dados. Já Magaly Robalino ressaltou: “Alguns atributos das políticas educacionais são clichês, mas quando nos aprofundamos um pouco mais, sentimos que esses lugares-comuns continuam sendo aspirações de um projeto de país”. José Henrique Paim destacou: “Muitas vezes, na educação, falamos de problemas, mas a boa notícia é que há sistemas educacionais que estão fazendo a sua parte. E isso é uma referência para que tenhamos a esperança de fazer uma mudança importante”.
Os desafios da formação de professores
O segundo painel, “Os desafios da formação e do desenvolvimento profissional dos professores em tempos de transformações educacionais profundas”, analisou como melhorar a qualidade do ensino e a taxa de conclusão da educação escolar obrigatória por meio da formação de professores, levando em conta a disparidade nos perfis dos educadores e as necessidades dos alunos. Ambos os blocos foram moderados pelo ex-secretário de Educação Pública do México, Otto Granados.
No primeiro bloco, debateram a bióloga e doutora em Educação pela Universidade de Columbia, Melina Furman; o professor da Universidade Diego Portales, José Joaquín Brunner; o professor de Sociologia da Universidade Complutense de Madrid, Mariano Fernández Enguita; e José Augusto Pacheco, bacharel em História e doutor em Educação com especialização em Desenvolvimento Curricular pela Universidade do Minho.
Melina Furman falou sobre o desenvolvimento profissional dos professores. “Há uma questão de acesso e atração de talentos. Enquanto isso, temos que pensar estrategicamente e criar programas para atrair os jovens para a docência”, expressou. José Joaquín Brunner destacou: “Os resultados que estamos obtendo em nosso sistema são deploráveis, há algo acontecendo. Precisamos investigar o fracasso. Somos críticos, mas não investigamos por que fracassamos. Precisamos orientar e reorientar a agenda de educação”. Por sua vez, Fernández Enguita assinalou a “necessidade de uma formação inicial significativamente mais densa”.
Posteriormente, participaram o professor Mariano Narodowski, da Universidade Torcuato Di Tella; o diretor do Instituto Internacional de Educação Superior da UNESCO para a América Latina e o Caribe, Francesc Pedró; a reitora do Instituto de Educação da Universidade ORT Uruguai, Denise Vaillant; e o vice-presidente da corporação educacional “Conciencia Educativa”, Héctor Valdés.
Mariano Narodowski fez uma proposta: “Proponho trabalhar com um tipo de realismo para compensar os problemas que os futuros professores trazem do ensino secundário. E também focar na formação de professores baseada no ensino. Tudo isso fundamentado no método científico, para formar esses professores. Por outro lado, Francesc Pedró destacou que “a melhoria dos resultados dos alunos pode ser conseguida com jovens bem motivados, que vêm de bons centros de ensino universitário e com uma mínima formação profissional”. Depois, Denise Vaillant asseverou: “As políticas públicas devem pôr o foco na inserção na docência. O que se aprende nos primeiros anos é o que tende a se repetir. Essa área de inserção tem de ser priorizada nas políticas públicas”.
Uma visão transversal
Finalmente, a roda de conversa do Conselho Assessor da OEI foi concluída com um terceiro e último painel para analisar as discussões realizadas ao longo do dia de trabalho. Os palestrantes contribuíram com sua visão transversal dos diferentes temas tratados durante o dia e suas implicações na agenda ibero-americana para a transformação da educação, moderados pelo presidente do Conselho Assessor, Renato Opertti.
Um único grupo participou desse painel de debate, composto por Jasone Cenoz, doutora em Ciências da Educação; Ricardo Cuenca, ex-ministro da Educação do Peru; Ariel Fiszbein, diretor do Programa de Educação do Diálogo Interamericano; Claudia Limón, diretora-geral do CONCIUS; e Jaime Saavedra, diretor de Desenvolvimento Humano para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial.
Entre os destaques, Claudia Limón enfatizou: “Os professores precisam ter segurança em uma política pública que não mude. Temos que aprender com o fracasso. Temos que ter políticas permanentes e flexíveis que se adaptem aos professores e alunos. E, finalmente, Jaime Saavedra afirmou: “Temos que nos centrar em mudar o que está acontecendo na sala de aula. Racionalizar o currículo, que o professor internalize seu papel (que é garantir que todos aprendam) e que todas as crianças tenham material de leitura.
Para encerrar o dia, a Secretária de Educação da Argentina, Silvina Gvirtz, falou mais uma vez: “Tivemos painéis excelentes neste seminário. Todas as questões fundamentais da política educacional, ou muitas delas, foram abordadas. Gostaria de acrescentar algumas questões nas quais estamos trabalhando no Ministério. Uma delas tem a ver com o horário escolar nos países da região, temos uma dívida com a ampliação do horário escolar. Uma segunda condição é que todos nós queremos que as crianças sejam alfabetizadas. Entretanto, há poucas políticas para fornecer livros. Esses insumos são fundamentais. E uma terceira questão tem a ver com a formação de formadores. Falamos sobre formação docente, mas aqueles que formam os professores também precisam ter experiência em sala de aula”.