A OEI adverte que a pandemia, a mudança climática e a digitalização são os grandes desafios para a educação
Na Ibero-América, a celebração do Dia Internacional da Educação neste 24 de janeiro será, sem dúvida, diferente dos anos anteriores. A pandemia da COVID-19 acentuou a incerteza de uma região desigual e, agora mais do que nunca, mostrou a necessidade de cooperação entre os países ibero-americanos no campo da educação.
Para a OEI, a organização que lidera a cooperação ibero-americana, a crise evidenciou a grande desigualdade existente na região e a urgência de avançar na definição de soluções educacionais eficazes através de uma ação regional conjunta que garanta a qualidade, inclusão e equidade na educação.
A América Latina e o Caribe constituem a região mais desigual do mundo. Os 10% mais ricos concentram 30% da renda total, enquanto os 20% mais pobres têm 6%. Esta desigualdade é evidente no acesso, continuidade e permanência no sistema educacional, aumentando nas populações mais vulneráveis, como é o caso de meninas e adolescentes, pessoas com deficiência ou povos indígenas.
Diante desse panorama, levantam-se as seguintes questões: qual é o estado atual da educação na Ibero-América? Quais são as necessidades mais imediatas da educação na região? A OEI, através de seu amplo conhecimento do contexto regional, e atendendo a algumas linhas estratégicas identificadas conjuntamente com os governos nacionais em seu Programa-Orçamento 2021-2022, identificou que a educação na primeira infância, a aprendizagem ao longo da vida e o fim da exclusão digital devem ser a prioridade nos países ibero-americanos. As consequências sanitárias, psicológicas, sociais e econômicas têm sido intensamente acentuadas nessas áreas educacionais, o que está gerando processos de ensino-aprendizagem em um contexto de enormes dificuldades, destaca a organização.
Por outro lado, em relação ao papel dos professores, a organização também aponta para a necessidade de mais e melhor formação inicial e continuada dos professores para enfrentar os diversos desafios da sociedade atual, tais como a atenção à diversidade, o desenvolvimento de habilidades ligadas à tecnologia e à digitalização, e as chamadas competências para o século XXI. Da mesma forma, a OEI adverte que a insegurança, as crises migratórias, as violações dos direitos humanos e a violência estrutural em parte da região mostram a necessidade de dar mais destaque à educação em direitos humanos e à cidadania global nas diferentes etapas de formação.
Conectividade, a chave para superar a desigualdade educacional na Ibero-América
Em outubro do ano passado, a OEI publicou seu relatório Miradas 2020, ressaltando que é urgente estabelecer planos robustos de digitalização para combater o perigo de um aumento das desigualdades educacionais. O estudo detalha que esses planos devem garantir uma distribuição correta e extensa de conectividade e dispositivos, bem como a formação adequada para que os professores possam fazer uso pedagógico das tecnologias.
“A pandemia revelou a existência de uma grave desigualdade digital: mais de 50% dos estudantes da região não têm acesso à conectividade ou a dispositivos, o que significa uma completa falta de escolaridade, tanto presencial como a distância, uma exclusão digital que se torna uma exclusão educacional e social”, adverte Mariano Jabonero, secretário-geral da OEI.
Reforma curricular: a matéria pendente da região
Outro problema não resolvido na Ibero-América é a modernização dos currículos. A OEI adverte para a necessidade de rever o conteúdo e o significado dos currículos que atualmente estão excessivamente fragmentados e sobrecarregados. Neste sentido, tornou-se uma prioridade para a região decidir que aprendizado é essencial e, portanto, deve ser ensinado com base nas necessidades e exigências da sociedade atual e no tipo de cidadão que se deseja formar. Definitivamente, aprofundar o conceito de ensino por competências.
A pandemia e o clima, ameaças para a educação
Em um momento em que muitos países estavam procurando a forma para fazer um retorno seguro às aulas, o pico nos casos significou a interrupção dos estudos, que pode ser prolongada indefinidamente, aprofundando a disparidade nos tempos e condições sob as quais as escolas estão reabrindo.
Além disso, a região teve que suportar os eventos climáticos extremos. Furacões na América Central e no Caribe, inundações na Colômbia e a recente nevasca histórica na Espanha fizeram com que os sistemas educacionais sucumbissem, mesmo nos países que estavam preparados para desenvolver o ensino híbrido, presencial e a distância, não puderam continuar com as aulas, devido a falhas de energia, conectividade ou problemas de insalubridade.
O Papel do Multilateralismo e a Agenda 2030 na Educação Regional
De acordo com o cumprimento da Agenda 2030 e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, a OEI tem trabalhado em coordenação com governos e outras organizações internacionais para dar respostas educacionais eficazes através de seus 18 escritórios em diferentes países ibero-americanos. Somente em 2020, implementou um total de 570 projetos em toda a região, com mais de 192.000 usuários beneficiários em toda a Ibero-América. Merece destaque as centenas de bolsas de estudo oferecidas para os professores adquirirem competências digitais, com o apoio de universidades renomadas como a UNIR ou a Universidade Internacional de Valência.
Com o objetivo de fortalecer o ensino superior dos países de língua espanhola e portuguesa, a organização aposta na estratégia da Universidade Ibero-Americana 2030, visando tornar os sistemas universitários da região mais comparáveis e compatíveis entre si. A estratégia está alinhada com o horizonte da agenda de desenvolvimento internacional definida para o final desta década, que começou com grandes desafios, mas que se apresenta como uma oportunidade para transformar a educação ibero-americana a partir do multilateralismo e da integração regional.