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Biblioteca de Alberto Manguel vem para Lisboa, onde será criado o Centro de Estudos sobre a História da Leitura

Publicado el 25 Sep. 2020

Alberto Manguel mudou-se de armas e bagagens para a capital portuguesa. Na bagagem, traz um verdadeiro tesouro: o seu acervo de 40 mil livros, com o qual iniciará uma nova biblioteca.

Alberto Manguel acolheu o convite do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e mudou-se de armas e bagagens para a capital portuguesa. Na bagagem, traz um verdadeiro tesouro: o seu acervo de 40 mil livros, com o qual iniciará uma nova biblioteca. Para além disso, vai presidir ao Centro de Estudos sobre a História da Leitura.

O projeto integral, que ocupa uma área de cerca de 600 metros quadrados e será instalado no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes, próximo do Museu de Arte Antiga, deverá inaugurar dentro de dois anos.

Ao ilustre escritor, ensaísta, tradutor e bibliófilo juntam-se, no Conselho Honorário, nomes maiores da literatura internacional, como Olga Tokarczuk (Prémio Nobel da Literatura de 2018), Margaret Atwood, Salman Rushdie, Chico Buarque (Prémio Camões 2019) e o poeta e cardeal português Tolentino de Mendonça, Arquivista e Bibliotecário do Vaticano.

O conjunto do acervo que Manguel trará para Lisboa compõe-se essencialmente de obras de literatura e não ficção nas áreas das artes e humanidades.

Nascido em 1948, em Buenos Aires, Alberto Manguel cresceu em Israel e na Argentina, porque o seu pai era diplomata, o que lhe proporcionou uma infância solitária, salva pela companhia dos livros. Numa obra publicada em 2019, “Monstros Fabulosos”, na qual recupera as personagens imaginárias que conheceu nas suas primeiras leituras, o autor recorda que passou a infância a viajar de casa em casa, e que os quartos em que dormia mudavam constantemente, sendo nos livros que se ancorava e encontrava conforto e segurança.

Autor de uma vasta bibliografia, entre a qual se contam best-sellers internacionais como “Dicionário de Lugares Imaginários”, “Uma História da Curiosidade” e “A Biblioteca à Noite”, Alberto Manguel foi, entre 2016 e 2018, diretor da Biblioteca Nacional da Argentina. O cargo tinha sido anteriormente ocupado por outro escritor e bibliófilo argentino, Jorge Luís Borges, para quem Alberto Manguel, ainda jovem, lera.

Tudo começou quando Manguel tinha 16 anos, andava na escola e trabalhava numa livraria anglo‑alemã, em Buenos Aires, chamada Pygmalion. Borges entrava na livraria ao final da tarde, quando voltava do trabalho na Biblioteca Nacional da Argentina, de que era diretor, e certo dia, depois de escolher alguns livros, perguntou ao jovem Alberto Manguel se podia ler para ele à noite, pois estava a ficar cego, e a mãe, já na casa dos 90, cansava-se facilmente.

Foi depois de terminado o período de quatro anos (entre 1964 e 1968) em que foi leitor de Borges, que Alberto Manguel se mudou para a Europa, tendo vivido entre Espanha, França, Itália e Inglaterra.

Editou cerca de uma dezena de antologias de contos, sobre temas tão diversos como o fantástico ou a literatura erótica. É ensaísta e romancista premiado, tendo recebido, entre outros, o Prémio Formentor das Letras, em 2017, pela obra “Embalando a minha biblioteca”, na qual descreve a penosa tarefa de desmontar a sua biblioteca. No início do século, Alberto Manguel instalara a sua imensa biblioteca num antigo presbitério do Vale do Loire, em França, e sentiu que encontrara uma casa para si e para os seus livros, mas essa morada acabou por não ser permanente e os milhares de livros de Manguel acabaram guardados em caixotes no Canadá.

A partir desse penoso acontecimento, o autor reflete sobre a natureza da relação entre leitores e os seus livros, sobre o lugar primordial que deve ser ocupado pelos livros e sobre a importância das bibliotecas nas sociedades civilizadas e democráticas.

A biblioteca de Alberto Manguel vai finalmente ser pública nesta nova vida em Lisboa, cumprindo um desejo do escritor que sempre lutou pela promoção da leitura. Lisboa ganha mais esta sedução por meio da biblioteca de Manguel, que escreveu na obra “A Biblioteca à Noite”: “Imensamente generosos, os meus livros, não me fazem nenhuma exigência, antes me oferecem todo o tipo de iluminação.“

Publicado el 25 Sep. 2020