Colóquio Internacional “Portugal e Brasil: história, presente, futuro” celebrou o bicentenário da independência do Brasil
Decorreu, no dia 3 de novembro, o colóquio internacional “Portugal e Brasil: história, presente, futuro”, organizado pela OEI e pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), com o apoio da Fundação Universitária Ibero-americana (FUNIBER).
O colóquio reuniu investigadores de universidades portuguesas, brasileiras e espanholas, bem como especialistas em relações internacionais e historiadores, e partiu de uma perspetiva comparada das independências do Brasil e dos territórios hispano-americanos e das relações internacionais então existentes, para debater a inserção internacional do Brasil e perspetivar o futuro do país como ator internacional no século XXI.
Na sessão de abertura, foi sublinhada a abordagem inovadora que o Colóquio assumia, tendo por objetivo promover um debate orientado por referências geográficas e cronológicas mais amplas, abrangendo as relações históricas entre os países ibero-americanos desde as independências até a atualidade. José Amado da Silva, Reitor da UAL realçou a importância de estudar e (re)conhecer a história que envolve Portugal e o Brasil, numa perspetiva que deve abranger a Península Ibérica. Luís Tomé, Diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade, destacou a relevância do evento por assumir uma parceria entre os Departamentos de História e de Relações Internacionais daquela instituição, permitindo perceber melhor o passado e projetar o futuro, fomentando por esse meio a criação de mais conhecimento.
Fréderic Vidal, Diretor do Departamento de História, Artes, Humanidades da UAL, destacou o ano intenso com atividades relacionadas com Bicentenário da independência do Brasil, valorizando também a ligação entre as áreas científicas da História e das Relações Internacionais e o Ministro-Conselheiro da Embaixada do Brasil, João Paulo Ortega Terra, manifestou a satisfação do Governo do Brasil com as celebrações que Portugal tem organizado para assinalar esta data tão importante para a história dos dois países, reflexo de relações excelentes em vários campos. Destacou ainda que a região Ibero-americana vive grandes desafios, mas que é uma região que vive em paz, devendo ser valorizado o papel das diplomacias que determinaram a delimitação das fronteiras brasileiras.
Na primeira das conferências magistrais, subordinada ao tema “Relações hispano-portuguesas nas Américas antes das independências”, José Manuel Santos, Professor Titular de História do Brasil na Universidade de Salamanca e Diretor do Centro de Estudios Brasileños daquela Universidade, desafiou os presentes a mudar a maneira de entender a História, realçando as conexões, colaborações e influências mútuas em contraste com uma visão estritamente nacionalista e belicista, e percorreu a história do Brasil, antes da independência, a partir das múltiplas parcerias e influências culturais.
Na sessão intitulada “As independências do Brasil e dos territórios hispano-americanos em perspetiva comparada”, João Paulo Pimenta da Universidade de São Paulo e Frigdiano Álvaro Durántez da Universidad Europea del Atlántico/FUNIBER compararam as independências dos diversos países da América hispânica e do Brasil, as articulações e influências recíprocas, semelhanças e diferentes impactos geopolíticos. Nesta linha, Roberta Stumpf, diretora da cátedra de História e Cultura Luso-Brasileira da UAL, abordou os processos das independências latino-americanas analisando a manutenção das regiões administrativas do período colonial, salientando também a existência de identidades nacionais já consolidadas e suas consequências nos processos independentistas.
A sessão «As relações internacionais no contexto das independências ibero-americanas» contou com Nuno Canas Mendes e Nuno Monteiro, ambos da Universidade de Lisboa, e Nancy Gomes, diretora da cátedra de Estudos Ibero-americanos da UAL. Os intervenientes aprofundaram a evolução da diplomacia europeia e os tratados firmados na primeira metade do século XIX, bem como a prioridade atlântica dos Braganças e a sua ação para manter a independência da coroa e a forma como as suas ações impactaram o inevitável processo de independência do Brasil.
O tema «A inserção internacional do Brasil (séculos XIX e XX)» contou com a intervenção de Daniel Cardoso, da UAL, que abordou o papel da Ásia na dimensão internacional do Brasil, nomeadamente através do Japão, nas décadas de 60 e 70 do século XX e mais recentemente da China. Ana Paula Laborinho, diretora do escritório da OEI em Portugal, Nancy Gomes e Filipe Vasconcelos Romão, da UAL, refletiram sobre as relações externas do Brasil, os tratados internacionais, o Mercosul e os desafios da política externa brasileira, nomeadamente com África, mas também com a Ásia estando cada vez mais voltada para o Índico, em contraponto à Europa.
A propósito da relação com a Ásia, Ana Laborinho referiu a traslação da relação com o Japão para a China, em linha com a importância crescente daquele país que compete a todos os níveis com os EUA, nomeadamente ao nível da língua. Se pensámos a globalização baseada no inglês, a China tem uma forte aposta no mandarim como soft power, sendo exponencial a presença do Instituto Confúcio, atualmente em mais de 160 países, incluindo a América Latina.
A segunda e última conferência magistral, subordinada ao tema “O Brasil como ator internacional no século XXI”, foi proferida por Thiago Gehre Galvão, da Universidade de Brasília, que apresentou as raízes da identidade (inter)nacional do Brasil, da afirmação democrática entre 1984-94, a um período de estabilização até 2004 que permitiu o reforço de práticas e instituições democráticas, altura em que, defendeu, se começou a construir um projeto de potência. Este projeto entra em declínio com a destituição da Presidente Dilma Rousseff e, neste momento, o principal desafio consiste na recuperação do respeito internacional
A sessão de encerramento contou com José Amado da Silva, Reitor da UAL, Ana Paula Laborinho, Diretora da OEI em Portugal, e Francisco Ribeiro Telles, Coordenador em Portugal das Comemorações do bicentenário da independência do Brasil.
O Embaixador destacou a relevância da iniciativa por ir para além da realidade da relação Portugal-Brasil, mas antes alargar a análise a todo o espaço Ibero-americano. Referiu que a diversidade de Portugal e do Brasil é também pontuada com similitudes e fatores em comum, como a língua, a defesa de princípios humanistas e a facilidade de convívio com pessoas de culturas diferentes. Salientou ainda que a relação bilateral tem alicerces fortes, construídos ao longo dos últimos 200 anos e valorizou o facto de Portugal ter sido formalmente convidado pelo governo brasileiro para integrar as comemorações do Bicentenário, o que reforçou o caminho conjunto em que “construímos as relações futuras de dois estados em permanente evolução”.