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Mais de 100.000 pessoas assistiram ao I Seminário Virtual sobre Competências de Leitura na Primeira Infância, organizado pela OEI e pelo CERLALC

Publicado el 21 Oct. 2020

Mais de 100.000 pessoas estiveram conectadas durante o evento, onde especialistas de toda a região discutiram temas como a leitura e as linguagens de expressão, as tecnologias digitais na primeira infância e políticas públicas para os mais jovens.

Nos passados dias 7, 8 e 9 de outubro, realizou-se o I Seminário virtual sobre Competências de Leitura, Primeira Infância e Leitura em suporte digital, organizado conjuntamente pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e o Centro Regional para el Fomento del Libro em América Latina y el Caribe (CERLALC), com o apoio dos Ministérios costa-riquenhos, da Educação Pública e da Cultura e da Juventude. Através da plataforma Zoom e das contas de Facebook das duas instituições organizadoras, mais de 100.000 pessoas estiveram conectadas durante os três dias do evento, onde especialistas de toda a região discutiram temas importantes para o desenvolvimento infantil, como a leitura e as linguagens de expressão, as tecnologias digitais na primeira infância e políticas públicas para os mais jovens.

A conferência inaugural esteve a cargo de Yannig Dussart, Diretor do Desenvolvimento para a Primeira Infância do Escritório Regional da UNICEF para a América Latina e Caraíbas. Nela, Dussart falou sobre a importância dos primeiros anos como etapa crítica para o desenvolvimento e apresentou um panorama mundial e regional do estado da primeira infância, assim como o impacto que a crise da COVID-19 teve na atenção dos mais pequenos.

Durante o primeiro dia, o evento contou com a presença do Secretário-Geral da OEI, do Diretor do CERLALC, da Ministra da Cultura e Juventude da Costa Rica e da Vice-Ministra da Educação da Costa Rica. Durante a sessão de abertura, Andrés Ossa, Diretor do CERLALC, assinalou a relevância deste evento como um espaço de encontro e construção regional focado na primeira infância: “seguindo o lema da UNESCO de construir a paz na mente das mulheres e dos homens, teremos uma grande oportunidade para imaginar e construir conjuntamente novas possibilidades para levar a educação, a leitura e a cultura às mentes dos mais jovens”, afirmou. Por sua vez, o Secretário-Geral da OEI, Mariano Jabonero, destacou que, entre as políticas de primeira infância, a promoção das competências de leitura, seja em suporte impresso ou digital, é fundamental. “Um/a menino/a que quer ler é um/a menino/a que quer compreender o mundo. E, hoje, esta deve ser uma política pública prioritária, porque está relacionada com o surgimento da crise da COVID-19, que vai envolver medidas de reforço educativo”.

 

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Durante este primeiro dia do seminário, refletiu-se sobre a abordagem à leitura, à cultura e à arte, desde o nascimento, e como as boas práticas de promoção de leitura, nos primeiros anos de vida, podem transformar a educação dos meninos e das meninas. A discussão sobre a importância de fomentar a leitura na primeira infância foi um eixo transversal, durante o primeiro painel deste evento: “Leio para ti, porque te amo. A leitura, em voz alta, cria, para os bebés, a oportunidade de lhes oferecer repertório cultural, oferece-lhes a oportunidade de reconhecer e desfrutar de formas únicas de mostrar intenções, de silêncio», disse Alma Carrasco, uma professora mexicana especialista em educação e alfabetização precoce, durante o seu discurso.

Além disso, a qualidade do conteúdo era uma questão central, pois afeta, diretamente, a educação recebida na primeira infância e a forma como as crianças estão a ser educadas nesta época da tecnologia.

Outro tópico discutido, durante esse primeiro dia, foi o papel das famílias na construção da competência de leitura nas crianças, através das lições lecionadas, durante a pandemia da COVID-19. Este tempo tem sido fundamental para avaliar e estudar os métodos utilizados para promover a leitura na primeira infância e o papel que as famílias desempenham neste processo.

A quarentena e o isolamento transformaram a dinâmica da aprendizagem, do ensino e das relações, não só nos adultos, mas também nas crianças. É por isso que, segundo Yolanda Reyes, especialista colombiana em educação e leitura infantil, «a linguagem da literatura é o que as crianças precisam, agora mais do que nunca, para serem compreendidas por um adulto que as observa». Além disso, explicou, durante o seu discurso, aquilo a que nomeou de «triângulo amoroso», que faz as crianças lerem: «este triângulo é formado por livros, leitores e, no meio, por adultos (pais ou educadores)».

Por outro lado, Patricia Bohrer, especialista brasileira em leitura, mencionou a importância da presença da leitura na vida das crianças, uma vez que «a aprendizagem da leitura ocorre ao longo da vida, mas as histórias e narrativas são fundamentais para a sobrevivência. Todos precisamos de histórias”, afirmou.

Durante o segundo dia, o tema da discussão foi as tecnologias digitais na primeira infância e as implicações que têm no desenvolvimento integral das crianças, na sua aprendizagem e na sua abordagem à palavra escrita e oral. Elisa Yuste, especialista espanhola em leitura, literatura infantil e tecnologias digitais, disse, na sua apresentação, que «é necessário ensinar as crianças a ler em digital, com conteúdo digital e com o acompanhamento de adultos, para que possam desenvolver-se com sucesso em ambientes digitais».

Esta conferência contou com a intervenção de Melania Brenes, Vice-Ministra do Ministério da Educação Pública da Costa Rica, Amalia de Pombo, Diretora das Artes do Ministério da Cultura da Colômbia, Pablo Pagés, da Gestão da Formação do Plan Ceibal, e Amy Víctor, Coordenadora da Primeira Infância do Escritório da OEI na República Dominicana. Todos discutiram se é ou não positivo que crianças, com menos de seis anos, estejam tão intimamente ligadas às tecnologias, aos ecrãs e ao mundo digital. Concordaram que, uma vez que existem provas científicas, tanto dos potenciais benefícios da tecnologia, como dos seus riscos para o desenvolvimento das crianças, há necessidade de monitorizar o conteúdo e o tempo que as crianças passam em frente aos ecrãs. «Há três variáveis a considerar para a utilização das TIC nas crianças: conteúdo, tempo e contexto. Como as TIC estão presentes desde o nascimento, as crianças reconhecem-nas como meios de interação», disse Melania Brenes.

Devido ao facto dos governos e das instituições reconhecerem que, atualmente, é impossível não ter em conta as TIC como vias de ensino e aprendizagem, foram desenvolvidos projetos como Maguaré e MaguaRed, do Ministério da Cultura da Colômbia, Biblioteca País e o programa Aprender Todos, no Uruguai, e Leer nos Conecta desde Casa, na República Dominicana. Todos estes projetos têm em comum incentivar a leitura na primeira infância, através de ferramentas e apoios digitais que ajudem a ter um maior alcance na população. Além disso, os intervenientes realçaram a importância deste tipo de espaços, no contexto atual da pandemia da COVID-19, uma vez que as TIC ajudaram a manter os projetos vivos e a aproximar as crianças da primeira infância e as suas famílias da leitura, a partir de casa.

Por último, durante o terceiro dia, foram debatidas políticas públicas para as crianças mais pequenas, com a intenção de colocar na agenda a importância do debate regional sobre mecanismos, programas e planos, desde que os Estados contribuam para a consolidação integral e inclusiva da educação e dos cuidados na primeira infância, tendo como base fundamental a leitura, os livros e a cultura, instrumentos essenciais para o desenvolvimento das crianças. Na conferência «Educação da Primeira Infância no Relatório de Monitorização Global 2020», Néstor López, Coordenador de Investigação e Desenvolvimento do Instituto Internacional de Planeamento Educativo – IIEP-UNESCO Buenos Aires, salientou: «Somos todos indivíduos, mas existem certas características de pessoas com necessidades educativas especiais, às quais os sistemas educativos não respondem: diversidade sexual, classes sociais, grupos étnicos, pessoas com deficiência, áreas com elevada dispersão demográfica, migrantes… O que precisa de ser ajustado para que se possa avançar para um modelo de educação mais inclusivo?”

Ao longo dos painéis, foram feitas diferentes intervenções que apresentaram exemplos de iniciativas na região e o trabalho para reforçar as ações governamentais centradas na primeira infância, tal como expresso por Ana Amor, Especialista em Educação da OEI: «Durante 71 anos, na OEI, temos acompanhado os governos da Ibero-América no reforço das suas políticas educativas. A primeira infância sempre foi uma prioridade para nós, mas a pandemia mostrou ainda mais a necessidade de restabelecer as prioridades».

No painel “Pensar o público para os mais pequenos”, Claudia Alejandra Gálvez, Diretora da Primeira Infância do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar, destacou: «Temos reforçado o papel das famílias em entender e promover a primeira educação em casa, em garantir que a casa seja um ambiente protetor e em criar confiança perante os novos desafios colocados pela pandemia”. A esta juntou-se Irma Luna Fuentes, Diretora de Educação Inicial da Secretaria de Educação Pública do México, para realçar que “Ler é prioritário. Ler tantas vezes por dia quantas forem necessárias, ler em pequenos grupos, ler para uma criança, ler para todos. Ler livros, contar histórias e poemas orais, cantar canções, brincar às adivinhas, (…) brincar com a linguagem, aconchegar as crianças com palavras amorosas, oferecer sempre o colo para que as palavras entrem na alma, através dos laços humanos».

Em seguida, o painel «Políticas Públicas para a Primeira Infância na Ibero-América» permitiu conhecer, de forma detalhada, as acões que organizações como a OEI, CERLALC e o Banco Inter-americano de Desenvolvimento estão a levar a cabo para apoiar os países da região no desenvolvimento de políticas e programas para as crianças mais pequenas, bem como as consequências da crise sanitária, especialmente na educação precoce e no desenvolvimento sociocultural das crianças. Jeimy Hernández, Coordenador de Leitura e Bibliotecas do CERLALC, comentou no seu discurso que «a leitura, a escrita e a fala são uma componente essencial para a participação cultural das crianças desde o nascimento». Do mesmo modo, Tamara Díaz, Coordenadora da área da Educação da OEI, apelou ao desenvolvimento de propostas multisetoriais: «se quisermos ultrapassar o contexto, não o podemos fazer apenas a partir da educação; precisamos de criar redes de apoio».

Na sessão de encerramento do evento, estiveram presentes Roberto Cuellar, Representante Permanente e Diretor do Escritório da OEI na Costa Rica, Andrés Ossa, Diretor do CERLALC, Melania Brenes Monge, vice-ministra do Ministério da Educação Pública da Costa Rica, e Sylvie Durán Salvatierra, Ministra da Cultura e da Juventude da Costa Rica, que deram as suas conclusões individuais sobre o evento e encorajaram a construção e reforço de ações regionais destinadas a avançar no sentido do posicionamento da educação infantil, como eixo transversal do desenvolvimento.

No seu discurso, a Ministra da Cultura e da Juventude da Costa Rica concluiu que «não podemos crescer de hoje para amanhã, nesta pandemia. Uma vez que existem guardas florestais, devemos todos ser guarda-crianças, trazendo a semente do conhecimento e do afeto para produzir pessoas resilientes. Se não nos podemos colocar nesse espaço de ligação, não aprendemos.”  Roberto Cuellar, Representante Permanente e Diretor do Escritório da OEI na Costa Rica, falou sobre a situação atual: «Vivemos numa época enigmática, com danos para vidas humanas e com isolamento social. Trabalhemos no tempo necessário para a educação e a promoção da leitura; não há melhor expressão da alma de uma democracia».

Da mesma forma, a Vice-Ministra do Ministério da Educação Pública da Costa Rica salientou que «a literatura, a leitura e os livros são definitivamente uma joia que não pode ser medida em termos do desenvolvimento dos países, são um processo central de aprendizagem ao longo da vida e uma alegria para as crianças». Entretanto, Andrés Ossa, Diretor do CERLALC, centrou o seu discurso final na importância da presença dos pais na promoção precoce da leitura: «Vimos como um denominador comum o amor e o afeto dos pais pelos seus filhos, que são os principais motores para a criação de sociedades leitoras”.

Publicado el 21 Oct. 2020