Modelos híbridos, a chave para combater a falta de qualidade, equidade e inclusão educativas na Ibero-América, de acordo com a OEI e o BID
OEI e BID realizam hoje um seminário internacional que visa compreender os retos da educação híbrida na região, com a participão dos ministros e especialistas da Ibero-América. Cerca de 180 milhões de estudantes foram afetados pela pandemia na América Latina, a região do mundo mais atingida. As perdas de aprendizagem durante o primeiro ano da pandemia foram de 90% nas escolas primárias e de 72% nas escolas secundárias da região.
Como se deve abordar a transformação digital de que a Ibero-América necessita no momento atual da pandemia? Como pode isto ser feito de uma forma conjunta e coordenada? Ministros e ministras da Educação ibero-americanos, juntamente com especialistas e peritos na matéria, tentam responder a estas e outras questões em Madrid no seminário internacional “Educação para o século XXI na América Latina e Caraíbas: prosperar, competir e inovar na era digital”. O encontro, que se realiza hoje na Casa da América em Madrid, é promovido pela Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, Ciência e Cultura (OEI) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pode ser acompanhado em direto através de streaming.
O seminário visa proporcionar um espaço de discussão e partilha de um roteiro para o pleno desenvolvimento de modelos híbridos de educação na região, tendo em conta que, após a abertura parcial de escolas e universidades em 2021, tornou-se evidente o grande fosso digital entre os países ibero-americanos. Este fosso revelou-se nas medidas de emergência desiguais e heterogéneas implementadas pelos países para enfrentar a perda de aprendizagens, ao mesmo tempo que se colocavam problemas de conectividade e acesso. De acordo com os números do BID, pelo menos 77 milhões de pessoas não têm acesso a Internet de qualidade nas zonas rurais da América Latina e das Caraíbas, enquanto a probabilidade de abandono escolar entre os jovens dos 12 aos 17 anos aumentou em 13%.
Durante a inauguração da jornada, o secretário-geral da OEI, Mariano Jabonero, considerou que na política pública é necessário definir o que é urgente e o que é importante, e com o surto da pandemia “foi necessário atender ao urgente com mecanismos para aliviar a situação de forma abrangente”; contudo, Jabonero recordou que na Ibero-América a maioria não tinha estes instrumentos: “faltava qualidade, equidade e inclusão”. O importante, segundo o secretário-geral da OEI, é que a região tenha “uma proposta de educação híbrida que também melhore a produtividade, que não melhora há 60 anos, e que previna novas pandemias”.
“A região tem a grande oportunidade de fazer um investimento focado na transformação digital da educação, na formação de professores de elevada qualidade, no fornecimento de infraestruturas do século XXI às escolas de zonas rurais e de maior pobreza “, disse Mauricio Claver-Carone, presidente do BID, que participou numa mensagem em vídeo. Para Claver-Carone, acima de tudo, “é necessário um verdadeiro empenho e a convicção de toda a comunidade educativa (setor público, setor privado e sociedade civil) a fim de colmatar lacunas e clivagens históricas, e assegurar que os jovens desenvolvem as competências de que necessitam para as exigências do mercado de trabalho não só de hoje, mas também do futuro.
Pilar Alegría, ministra da Educação e Formação Profissional de Espanha, assegurou que “a transformação digital já é uma realidade na vida dos nossos filhos e filhas, e é por isso que devemos tirar o máximo partido dela sem a demonizarmos. É um instrumento poderoso para alcançar os objetivos do sistema educativo: continuar a expandir a escolarização, reduzir as taxas de abandono escolar e melhorar a qualidade dos conhecimentos adquiridos através da motivação”.
Luis Prados, director de Programação da Casa de América, no seu discurso de boas-vindas, destacou o trabalho de colaboração com as instituições que organizam este evento, que considerou “fundamental” para o espaço ibero-americano e para os países que o compõem.
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Nesta primeira sessão, participaram Mercedes Mateo, chefe da Divisão de Educação do BID; Andrés Delich, secretário-geral adjunto da OEI; María Brown, ministra da Educação do Equador; Daniel Enrique Esponda, secretário de Estado da Educação das Honduras; Silvina Gvirtz, secretária da Educação do Ministério da Educação da Argentina; Luis Humberto Fernández, chefe da Autoridade Federal da Educação da Cidade do México, que salientou que “ninguém aprende com medo, fome ou insegurança”. Martín Müller, presidente da CGE da província de Entre Ríos, Argentina; Edna Portales Solval de Núñez, vice-ministra Técnica da Educação da Guatemala; Ricardo Cardona, vice-ministro da Educação, Ciência e Tecnologia de El Salvador; Mauro Luiz Rabelo, vice-ministro de Estado da Educação do Brasil e, finalmente, Ricardo Cuenca, ex-ministro da Educação do Peru, que apresentou os resultados do relatório A partir do terreno: a diversidade de modelos de educação híbrida na região.
O seminário prosseguiu de tarde com painéis sobre o modo como está a decorrer a incursão da inteligência artificial nas salas de aula ibero-americanas, tendo sido apresentadas algumas das boas práticas que já estão a ser realizadas na região para integrar as competências para o século XXI nos currículos. Entre outros, participaram Pablo da Silveira, ministro da Educação do Uruguai, que resumiu os desafios assumidos pelo Plano Ceibal para superar os efeitos da pandemia no país, e Magdalena Brier, diretora-geral de Profuturo, que salientou ser necessária muita informação para que a inteligência artificial funcione: “A América Latina está pronta, mas precisamos de desenvolver as regulamentações necessárias”.
Também estiveram presentes Agustín Batto, fundador da Eidos Global; Ángela Hurtado, presidente do JP Morgan para a Colômbia; Carmen Pellicer, presidente da Fundación Trilema; Ignacio Barrennechea, coordenador de Investigação Educativa da Universidade Católica Pontificia Argentina; Vasco Brazão, chefe de Investigação e assessor de Comportamento da CLOO Behavioral Insights Unit e Richard Culatta, diretor executivo da International Society for Technology in Education.
OEI e BID: unidos no compromisso de educação híbrida
Desde agosto de 2021, ambas as organizações têm vindo a trabalhar no desenvolvimento de uma estratégia regional que visa o desenvolvimento de modelos educativos híbridos para os países da região. Especificamente, trata-se de uma série de workshops dedicados ao reforço dos sistemas educativos nacionais e que se concentram em aspetos como as aptidões e as competências no contexto de cada país, a flexibilidade dos seus currículos e as novas formas de aprendizagem que têm sido promovidas em cada território desde a pandemia. O projeto encontra-se atualmente em fase de implementação de pilotos, que serão utilizados para expandir os sistemas híbridos para outros países.
Assim, a iniciativa, que está a ser desenvolvida inicialmente em nove países (Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, Honduras, El Salvador e México), pretende ser alargada a toda a região no âmbito do Programa Regional para a Transformação Digital na Educação que a OEI lançou no final de 2021, e que, para além do BID, tem importantes aliados como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECID), a Universidade Complutense de Madrid e a Profuturo.